O desempenho dos clubes brasileiros no Mundial de Clubes da FIFA 2025 tem provocado uma onda de entusiasmo na imprensa esportiva nacional. As vitórias diante de adversários com maior orçamento e infraestrutura vêm sendo tratadas como prova de que o futebol brasileiro voltou a ocupar seu lugar no topo.
No entanto, essa leitura é precipitada e perigosa.
Transformar conquistas pontuais em símbolo de grandeza estrutural é uma armadilha. Ao celebrar o sucesso de apenas quatro clubes — todos eles concentrados em centros de poder futebolístico — a mídia naturaliza a exclusão da maioria dos times do país e reforça um modelo concentrador que perpetua desigualdades.
O Brasil possui centenas de clubes profissionais e milhares de atletas que vivem à margem desse suposto "renascimento" do futebol. Fora do palco do Mundial, o que se vê são campeonatos regionais desvalorizados, estádios esvaziados, categorias de base precarizadas e federações sem transparência.
É preciso reconhecer que o futebol brasileiro enfrenta uma crise estrutural. Gestão amadora, calendário insano, ausência de políticas públicas, elitização dos estádios e concentração de mídia e recursos são apenas alguns dos sintomas.
Quando o Mundial terminar e o Campeonato Brasileiro for retomado, essas feridas voltarão a sangrar.
O ufanismo atual cumpre uma função ideológica: apaga a crise e alimenta o mito da superioridade natural do futebol brasileiro. Em vez disso, o momento deveria servir como alerta. É hora de usar a visibilidade conquistada lá fora para transformar o futebol aqui dentro.