sábado, 16 de novembro de 2019

Esporte e Política

Invariavelmente a crônica esportiva teima em afirmar que esporte não é política. Ignorância ou má fé? Não sei e nem irei julgar. O fato é que nos últimos meses estamos assistindo a um fenômeno interessante, vindo dos mais diferentes clubes de futebol brasileiro. Se não observamos nenhum engajamento político específico dos atletas profissionais, como até recentemente nós víamos no interior do movimento do Bom Senso F.C., os setores de marketing dos clubes resolveram pautar questões importantes da vida nacional em um momento conjuntural de claro acirramento no campo político.

Hoje, por exemplo, o Fluminente Football Club entrou em campo contra o Clube Atlético Mineiro com uma frase estampada na sua camisa que dizia "Todos Juntos Contra o Trabalho Infantil", tema candente e que toca o centro da reprodução do capital atualmente: a presença da força de trabalho superexplorada e precarizada, que segundo dados do Instituto de Geografia e Estatística de 2016, atinge dois milhões e quatrocentos mil crianças e adolescentes entre 05 e 17 anos em todo o território nacional.
Foto: Divulgação EC Bahia

Em outubro último foi a vez do Esporte Clube Bahia entrar em campo em jogo contra o Ceará, válido pela vigésima sétima rodada do brasileirão, com a camisa estampando "manchas de óleo" em clara alusão ao acidente ambiental que atinge as praias do nordeste do Brasil e impacta a vida econômica de várias cidades e centenas de famílias de pescadores. Em seu instagram oficial (@ecbahia) o clube assim se manifestou: “Por medidas de redução do impacto ambiental e pela punição aos responsáveis, nosso uniforme estará manchado de óleo no jogo de amanhã –como as praias do Nordeste”.

No mês de abril esse mesmo clube fez campanha aludindo as demarcações das terras indígenas. Nessa campanha o clube dizia claramente que era "preciso cumprir a regra. Sem demarcação, não tem jogo". E o que dizer em relação as bandeirinhas de escanteio com as cores do arco-íris em protesto contra a LGBTQfobia em jogo realizado na Arena Fonte Nova contra o Fortaleza?


Trabalho infantil, crime ambiental, discriminação e demarcação de terras indígenas. Esses são ou não temas que estão presentes nas pautas de diferentes movimentos de representações políticas e sociais que se articulam em vários lugares no Brasil e por que não dizer, no mundo? Qual a relação deles com o esporte? O que diriam os cronistas esportivos sobre essas iniciativas?

Mas, se ainda restam dúvidas do vínculo do esporte com a política e se acontecimentos históricos como, por exemplo, as Olimpíadas de Berlim, em 1936, não convencem ninguém, será que outras manifestações, surgindo agora não mais do marketing clubista, mas, sim, do interior das torcidas organizadas como a do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e o Santos Futebol Clube, teriam força para finalmente jogar por terra essa falácia de que esporte não pode se misturar com política?

Falaremos sobre isso em outra postagem.

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