domingo, 27 de abril de 2014

Crítica sobre a Copa: o esquecimento da forma Estado

O presente texto objetiva refletir um pouco mais sobre a Copa do Mundo que ocorrerá sim, no Brasil, daqui a pouco mais de um mês. Ele assume como inspiração a leitura do texto do senhor Jorge Luiz Souto Maior, que foi compartilhado no blog do sociólogo de formação e jornalista esportivo, Juca Kfouri, tendo sido disseminado nas redes sociais.

A tese defendida pelo autor do texto é simples: a Copa já era. Para tanto, ele usa a hipótese de que o evento “(...) já não terá nenhum valor para a sociedade brasileira e, em especial para a classe trabalhadora, restando-nos ser diligentes para que os danos gerados não se arrastem para o período posterior à Copa”.
No meu entendimento, este argumento inicial não se sustenta em função do seu unilateralismo. Dizer que a Copa “já não terá nenhum valor para a sociedade brasileira” é homogeneizar esta sociedade, tão desigual e com interesses não só distintos como, sobretudo, antagônicos. É aqui que reside especificamente a minha reflexão, na forma como a sociedade se organiza no interior de um determinado Bloco Histórico.
Penso que o sucesso desse texto deve-se justamente a este argumento unilateral. Todo o seu conjunto não reforça nenhum aspecto positivo sobre a Copa do Mundo. Não existe? E assume o conceito de legado como algo feito para o evento em si, desconhecendo que as ações que estão sendo realizadas fazem parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e 2) e independe do megaevento. Assumindo estas características, ele agrada tanto aos gregos – oposição de direita – quanto aos troianos – oposição de esquerda, fragilizando esta em especial por descolar dos seus argumentos o que historicamente lhe deu força organizativa e de enfrentamento: os aspectos das lutas de classes.
Um dado, imagino, pode esclarecer o que estou querendo dizer de uma maneira mais objetiva e que traduz a hegemonia do capital no seio do bloco histórico. Ao centralizar o argumento sobre a base de que a “Copa já era” e que a mesma será deletéria para a classe trabalhadora indistintamente, ele tira do foco o que é fundamental na pauperização dos subalternos: a apropriação privada dos meios de produção da vida. O problema, no meu entendimento, não está nas palavras de ordem “Não Vai Ter Copa”, “Vai Ter Copa” e agora esta de que “a Copa já era”, mas, sim, na forma metabólica de organização do capital.
Para termos uma ideia de como esse assunto é controverso, se compararmos apenas o que o Estado de São Paulo arrecadou em 2013 só nos pedágios, daria para construir mais 12 estádios para a Copa. O que estou querendo dizer com isso? O Estado é rico. Mas esta riqueza é canalizada para determinados extratos da sociedade e é tão deletéria para a “classe trabalhadora” que mesmo com todas as “diligências” históricas possíveis, “os danos gerados” não só se apresentaram como se arrastam desde os oitocentos e neste período não tínhamos Copa.
Os gastos que o Estado brasileiro vem tendo com a construção das chamadas Arenas equivalem a duas semanas de pagamento, pelo Tesouro Nacional, de juros aos bancos. Não por acaso o Bradesco, recentemente, anunciou o crescimento de 18% de lucro líquido (R$ 3,443 bilhões) só no primeiro trimestre deste ano. E podem esperar os anúncios exitosos dos outros, privados e públicos.
Com isso, não estou querendo defender o indefensável nem, tampouco, arrefecer as críticas aos megaeventos que considero mais do que necessárias. Quem me conhece sabe dos meus posicionamentos desde o Pan-Americano de 2007 no Rio de Janeiro, todos sendo atualmente mais do que comprovados que tínhamos razão ao fazer a crítica e quem acompanha este blog desde a sua criação, em 2009, sabe do conteúdo destas críticas. Até sobre os Jogos Olímpicos de 2016 estamos falando desde 2010.
Não é meu intuito aqui amenizar as necessárias críticas sobre os desmandos do dinheiro público, sobre os acidentes de trabalho que vitimaram vários operários em estados distintos, sobre o lucro exorbitante que a FIFA terá, sobre as remoções de famílias inteiras, sobre a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal entre outros pontos que são ricamente apresentados no texto apreciado. Mas apenas problematizar que isso se dá no contexto do estado que temos e não em um estado ideal de expressão do meu desejo, de como eu gostaria que o mesmo fosse.
Criticar não é falar mal. Não é apenas apresentar onze argumentos que dizem sim, muitas verdades, mas que escondem o essencial, tornando o texto, guardada suas devidas proporções, uma peça sofismática. Tenho acordo com a grande maioria das críticas do senhor Souto Maior, e penso que algumas necessitariam de maiores mediações, mas os seus argumentos se apequenam ao se prenderem a uma lógica conceitual pré-concebida e sabida de todos nós, que o evento Copa do Mundo não está trazendo os benefícios que foram apresentados quando concorreu com outros países, notadamente para a classe dos subalternos, já que o capital financeiro está rindo que é uma beleza.
O que tem de novidade no texto é a quantidade de elementos apresentados e o grau de desenvolvimento dos mesmos em função do momento em que ele é escrito, permitindo sua atualização. Se fosse escrito em 2007, ele faria uma crítica aos absurdos 2 bilhões de reais que estavam previstos nas projeções da matriz de responsabilidade. A projeção atual saltou para 8 bilhões. O fenômeno da crítica, no entanto, é o mesmo.
Isso não diminui a força do texto, mas, insisto, isso não pode se resumir à Copa do Mundo em si. No meu entendimento tudo o que vem ocorrendo, que deve ser combatido, criticado, denunciado, SIM!!!, diz respeito a um aspecto que vem sendo esquecido no contexto da luta mais geral e que considero central: a exploração do capital. Essas críticas que se apresentam no texto devem sair do seu aspecto particular e se assumir como fundamento da luta mais geral de enfrentamento do capital. Quando leio textos com este conteúdo, procuro dá esta direção. Penso que o esquecimento do “inimigo comum” está colocando todas as oposições, de direita e de esquerda, de mãos dadas na crítica sobre o mesmo fenômeno, a Copa do Mundo, deixando de lado o capital.
Existe aqui uma questão que é programática. A esquerda não pode se esquecer de que esse debate sobre vai ter ou não a copa do mundo e que agora a copa já era vem se esquecendo do fundamental da luta de classe: a apropriação do valor produzido e reproduzido pelo megaevento. Para nós isso é fundamental! É o que nos distingue historicamente da direita, reacionária e raivosa que vem ultimamente “saindo do armário”.
Falta ao governo da Dilma Rousself, reconheço, uma radicalização das perspectivas democráticas e populares. Difícil na atual correlação de forças no interior do Congresso Nacional. Mas a aprovação do Marco Civil da Internet demonstrou que mesmo nesta coalizão desfavorável, característico da forma política que herdamos da ditadura militar, podemos fazer mais do está se fazendo.
Que Juca Kfouri reproduza textos como esse, que atende as perspectivas dos críticos críticos no seu blog sob uma plataforma do Universo On Line (UOL), braço da Folha de São Paulo, vá lá. Que o senhor Jorge Luiz Souto Maior desenvolva esse belíssimo e riquíssimo raciocínio, que deve nos ajudar na proposição de um novo bloco histórico, ótimo. Eu aplaudo de pé. O que me causa estranheza é vê-lo sendo reproduzido por setores que mesmo reconhecendo que o outro projeto societário é necessário, mas que é impossível com os partidos conservadores tradicionais que temos, faça deste limão uma limonada e se somem aos discursos unilaterais e conservadores que querem desestabilizar o governo federal com o tal “Não Vai Ter Copa”, “Da Copa Eu Abro Mão” ou “a Copa Já Era”, frases destituídas de posição de classe definida e que não tem nenhuma proposta de radicalização democrática.
Por fim, o texto do senhor Souto Maior me serve para ampliar o espectro da crítica na direção do desenvolvimento de uma consciência superadora da forma de exploração do Capital. Fazer a crítica a Copa do Mundo no atual estágio de desenvolvimento do megaevento, com as palavras de ordem já citadas, no meu entendimento, é golpe. Não vou compactuar com isso.
Da Copa eu sempre abri mão. Já disse. Mas agora que teremos, devemos utilizar os erros e acertos (sim, tiveram acertos) junto com as críticas do texto do Souto Maior para dizer a população que o problema essencialmente está não neste ou naquele evento específico. Mas na forma como o bloco histórico se organiza.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ginástica Alegria na Escola

É com muita satisfação que estamos divulgando a premiação do PROJETO “DAS ESCOLAS DE GINÁSTICA A GINÁSTICA ALEGRIA NA ESCOLA” , coordenado pelas professoras JOSIANE CRISTINA CLIMACO mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFBA e, professora MARCIA LUCIA DOS SANTOS, ambas são supervisoras do PIBID, Educação Física da UFBA e, professoras da Escola Pública – Colégio Estadual Marcílio Dias.

O premio na categoria ESCOLAS PÚBLICAS foi atribuído pela PETROBRAS no concurso designado de PREMIO PETROBRAS DE ESPORTE ESCOLAR. O titulo do projeto vencedor é “ Das escolas da ginástica a ginástica alegria na escola”.

O merecido Prêmio conseguido pelas professoras Josiane Cristina Clímaco e Marcia Lúcia dos Santos é mais uma sinalização de que o Projeto GINÁSTICA ALEGRIA NA ESCOLA, pode ser convertido em Politica Pública de Esporte, na perspectiva da democratização, universalização, da emancipação humana.

Vale destacar que os estudos e pesquisa sobre a ginástica são desenvolvidos na UFBA desde o ano 2000, e podem ser localizados em Monografias da Especialização, dissertações e teses de doutorado, nos projetos de extensão, em especial no trabalho com aformação continuada de professores da Rede Pública desenvolvidos principalmente quando da coordenação na Secretaria de Educação da Bahia, da professora Kelly Costa e, atualmente, da professora Janete B. M. Do Espirito Santo.

Entre as monografias destaca-se a de Alexandre Henrique Silva Bezerra, intitulada “Proposição Supradora do Ensino da Ginástica na Escola Pública: Projeto Ginástica Alegria na Escola ”. Entre as dissertações de mestrado destaca-se o trabalho de Cristina Paraiso intitulado “ O Trato com o conhecimento da ginástica: Um estudo sobre possibilidades de superação . Entre as teses de doutorado destacam-se as teses da professora Roseane Soares de Almeida intitulada “A Ginastica na Formação de Professores e na Escola Básica ” e, a tese da professora Ana Rita Lorenzini intitulada “ Conteúdo e método da educação física escolar: contribuições da pedagogia histórico-crítica e da metodologia crítico-superadora no trato com a ginástica”.

O esforço de desenvolver cientificamente a ginástica, enquanto patrimônio cultural da humanidade, e converter projetos como “Ginástica Alegria na Escola” em politica pública de esporte e lazer pode ser localizado nas disciplinas oferecidas na graduação, Curso de Licenciatura em Educação Física da UFBA, principalmente na atualidade, atualmente após a reconceptualização curricular aprovada em 2010, no Eixo dos Conteúdos Específicos.
 
 

Para consolidar este trabalho, vimos contando ao longo dos anos com a colaboração de cientistas, professores como Micheli Ortega Escobar (UFPE/UFBA), Jurgen Dieckert (Universidade de Oldenburg/Alemanha), Reiner Hildebrandt-Stramann (Universidade de Braunschweig/Alemanha), Marco Bortoleto (UNICAMP), entre outros.

O Festival de Cultura Corporal, “Ginástica Alegria na Escola” é realizado anualmente e congrega professores e estudantes da Rede de Ensino Básica e Ensino Superior (Rede LEPEL), com a participação de professores e estudantes da Paraíba (Professor Ms. Fernando Cunha/UFPb), Pernambuco (Professora Dra. Erika Surruagy/UFRPE), Alagoas (Professora Dra. Joelma Albuquerque/UFAL), Sergipe (Professora Dra. Solange Lacks/UFS) e na Bahia (Professor Dr. Welington Araujo Silva/UEFS e Professor Ms. David Romão e Professora Ms. Cristina Paraiso da UFRBA).

A essência dos trabalhos é a elevação do padrão cultural esportivo, pelo desenvolvimento do pensamento teórico, da personalidade dos envolvidos, através do acesso aos meios de produção e ao conhecimento elaborado, em especial no campo da cultura corporal e, neste caso, da Ginástica, para a autodeterminação das práticas corporais. Implica no acesso ao patrimônio cultural elaborado e preservado sendo garantido as novas gerações, o produto e os meios de produção da cultura corporal. O fazemos integrando ensino-pesquisa e extensão.

Vale destacar mas, por fim, também, criticar a UFBA porque não oferece condições objetivas dignas para o trabalho pedagógico, vez que, não tem um Ginásio Coberto para a prática da Ginástica. Urge a construção do Complexo Esportivo Educacional da UFBA e a aprovação do Instituto de Ciências do Esporte (ICE) ou Instituto de Educação Física, Esporte e Lazer da UFBA (IEFEL).

(texto de divulgação escrito pela professora Celi Taffarel)

Caso queira saber maiores detalhes da premiação, clicar aqui.

domingo, 13 de abril de 2014

Indignação seletiva

Realmente muito nobre a preocupação do jogador Fred sobre a violência em campo. Importante e necessária sua indignação.

Mas quero registrar que a mesma, face ao fenômeno ser mais antigo do que o tempo do jogador à serviço do futebol, se expressa muito tardiamente e em contexto individualista, no momento em que o mesmo se sente ameaçado.

Não me venham com o chavão de antes tarde do que nunca. Este eu conheço. E conheço mais ainda essas ações localizadas oriundas de indignados seletivos.

Estou farto!!!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ditadura, nunca mais!!!

No dia 31 de março de 1964, um golpe civil-militar derrubou o presidente João Goulart, instaurando então um regime ditatorial que iria durar 21 anos. Até hoje, passados mais de 30 anos da considerada redemocratização, os torturadores e financiadores desta repressão que matou centenas de brasileiros, encontram-se livres. Muitos, inclusive, justificam essa barbárie e criam denominações, no mínimo, perversas, como a tal “ditabranda” em oposição a ditadura.

A Educação Física, como conteúdo escolar que tinha no desenvolvimento da aptidão física e nos aspectos performáticos do gesto esportivo o seu modus operandis, servia ao regime, na medida em que educava o sujeito para o respeito incondicional às regras sociais, o desenvolvimento de posturas individualistas no contexto das competições esportivas, a “ordem unida”, entre outros elementos, pautando-se em uma base explicativa de relação causal, ou de causa e efeito, o positivismo.

Importante frisar que nem a educação física como disciplina e o esporte como conteúdo, isolados da realidade concreta da época, teriam condições de operar determinadas subjetividades. Existem as intenções que não, necessariamente, dado o caráter complexo e contraditório desta mesma realidade, se materializam.

Os sujeitos deste processo, professores e alunos, devem ser considerados como capazes de reflexão e ação contra-hegemônica, não são simples sujeitos atomizados frente ao real. Mas é importante frisar que hegemonicamente, a intenção era fazer das instâncias sociais, se quiserem, dos aparelhos ideológico do Estado (Althrusser), organismos de reprodução do ideário oficial do regime militar que estava calcado na ideologia da Segurança Nacional, do chamado Brasil Grande!!!

Em seu texto, escrito na coleção Pesquisa Histórica na Educação Física, volume dois, o professor Amarílio Ferreira Neto vai trabalhar com a hipótese “de que os militares elaboraram uma teoria pedagógica aplicada à Educação Física brasileira, tendo como referencial o estatuto da instituição militar, inclusive seu sistema de ensino e o debate teórico-metodológico realizado em torno do acesso à educação popular pela população civil. A instrução pré-militar é considerada componente curricular substantivo dessa proposta educacional, poteriormente à Educação Física”.

É apenas uma hipótese. Mas sabemos da influência da instituição militar desde a formação da Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), considerada a primeira escola brasileira de educação física ligada a uma Universidade, em 1939, que deu seus primeiros passos em pleno Estado Novo, “(...) sob os auspícios e égide dos militares”. Podemos, portanto, inferir sem exageros que durante muitos anos os militares influenciaram a educação física, não sendo diferente, portanto, no contexto do regime civil-militar instaurado, como já dissemos, em 1964.

Portanto, a data do dia 31 de março do referido ano não só deve ser lembrada por nós, professores e estudantes de educação física, cidadãos republicanos, como também, precisamos evidenciar as arbitrariedades de um regime que durante 21 anos matou, torturou, exilou e destruiu centenas de famílias.

Devemos, no mínimo, gritar em alto e bom som, em respeito a memória dos que lutaram por uma sociedade democrática que ainda não alcançamos: ditadura, nunca mais!!!