domingo, 22 de abril de 2012

Economia (política) do Esporte

muito tempo trabalho com a tese de que para entender o esporte contemporâneo nós, professores de educação física de maneira especial e qualquer outro profissional que tenha o esporte como seu objeto de apreciação e até àqueles que apenas o apreciam para além das suas obrigações sociais, tendo-o como um dos elementos de vivência, fruição, nos seus momentos de lazer, necessitam se apropriar, minimamente, de um campo de estudo e pesquisa muito desenvolvido na França, mas que aqui ainda engatinha. Trata-se da economia do esporte.

Obviamente que esta obrigação pesa muito mais nos ombros daqueles que tem o esporte como elemento da sua ação profissional. Professores de educação física, jornalistas esportivos, técnicos esportivos, administradores do marketing esportivo entre outros. Estes têm a obrigação de pelo menos conhecer as bases paradigmáticas da economia do esporte se quiserem desenvolver um trabalho esclarecedor para os seus distintos públicos-alvo. Isso é cada vez mais verdadeiro quanto mais as expressões esportivas são instrumentalizadas política e economicamente.

Esse processo tem na Revolução Industrial o seu ponto inicial de maior desenvolvimento. Elementos presentes nos chamados jogos  da antiguidade e/ou jogos tradicionais (onde também existiam, sobre outras bases, as instrumentalizações políticas/econômicas) foram incorporados, reesignificados e disseminados no agora chamados jogos da modernidade, produzindo o que conhecemos atualmente como esporte moderno.


Se é a Revolução Industrial, no meio do século dezenove, que vai inaugurar o esporte moderno, será no final do século vinte, entre os anos de 1984 e 1986 que os elementos mercadológicos terão início como processo de influência e desenvolvimento do esporte, notadamente o esporte chamado de competição ou performance. Alguns fatores são determinantes desse processo, são eles: a) financiamentos privados dos Jogos Olímpicos de Los Angeles; b) exploração dos símbolos olímpicos de forma comercial; c) a introdução do marketing esportivo de forma profissional e mundializado; d) a quebra do monopólio das transmissões esportiva via televisão pública e, consequentemente e) a inauguração de vários canais de televisão do setor privado. Tudo isso somado aos necessários processos de desregulamentações das leis que ainda regiam o esporte moderno sobre bases amadorísticas. (Economia do Esporte, Jean-François Bourg & Jean-Jacques Gouguet. Bauru, SP. EDUSC, 2005). 

Todos esses movimentos foram necessários e fazem parte da dinâmica imanente e objetiva de expansão do capital. Compreender esses processos, fora do campo de conhecimento da economia do esporte é, no meu entendimento, praticamente impossível. No máximo conseguiremos elaborar conhecimentos sempre unilaterais, fora da totalidade histórica que o rege e que não nos permitirão apreender a dinâmica interna de desenvolvimento do esporte atual.

Penso que ajuda, e muito, a compreensão e a importância desse campo de conhecimento, bem como a ampliação da reflexão aqui posta, se nos debruçarmos sobre os elementos que hoje cercam as chamadas artes marciais mistas, o MMA.

Mas isso é assunto para outra postagem.

Um comentário:

Rafael Loureiro disse...

Estudante de Educação Física - UFPA

Acredito que é muito polêmico, tentar por via gnosioepistêmica criar campos ou áreas de conhecimento a determinados fenômenos sociais ou objetos de estudo. Claro que cada objeto/fenomeno apresenta suas particularidades e singularidades, mas se não entendermos suas várias formas em geral, sua dinâmica e movimento em interconexão com a totalidade do modo de vida moldado pelo capital, tal "Economia do esporte" não apresentará conteúdo em sua forma subjetivamente auto-sustentada, ou seja, por viés epistemológico lhe dar autonomia. Devemos sim compreender a filosofia marxiana em seus lineamentos ontológicos de investigação e estudar sua crítica a Economia política e sua continuação marxista a fundo, sem as quais não teremos pressupostos para teorizar o fenômeno que chamamos de Esporte, sem hipertrofia-gnosiológica da particularidade desse fenômeno. Pois não vai demorar para haver outras como "Economia da Luta", "Economia da Dança", "Economia do Jogo", "Economia da Musculação", "Economia do Pilates"