segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

José Cruz

 
A nova edição do Jornal Podium presta homenagem a um dos grande jornalistas esportivo do nosso país. Um dos poucos existentes, na minha humilde opinião. Estou falando do José Cruz. (foto).
Acesse o periódico e conheça um pouco mais sobre este homem e sua luta em favor do esporte brasileiro.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quem tá pagando a conta das vistorias?

No último dia 17, estiveram por aqui, entre outros, o senhor Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, Aldo Rebelo, ministro do Esporte e Ronaldo, ex-fenômeno, dublê de cartola e atual membro do Conselho Administrativo do Comitê Organizador Local.

O Objetivo da visita desses ilustres senhores foi vistoriar as obras que se realizam onde antes situava um conjunto arquitetônico, patrimônio histórico tombado pelo IPHAN, composto pela antiga Fonte Nova e o Balbininho e que foi demolido pela sanha do capital.

Antes de sobrevoar a chamada Nova Arena Fonte Nova e descer entre os simples mortais, trabalhadores da construção que ganharam o mimo do secretário-geral da FIFA, que prometeu presentear cada um com um ingresso para um jogo da Copa do Mundo e também um afago do ex-fenômeno, que prometeu um baba com os mesmos operários, eles visitaram os principais pontos turísticos da cidade.

Pelos depoimentos de uns e de outros, inclusive do governador, tá tudo indo muito bem, de vento em polpa, diria um almirante. O que me deixa muito feliz, embora ainda não tenha engolido a demolição da Fonte Nova e do Balbininho, insisto, patrimônio histórico, tombado pelo IPHAN.

Mas escrevo essas linhas para que alguém me responda quatro perguntas simples, as quais não obtive respostas durante esses dias, embora tenha procurado em vários meios informativos. São elas: (1) quanto custou a visita com sobrevoo aos pontos turísticos? (2) Quem pagou a conta da visita? (3) Esses gastos estão previstos no projeto Copa-2014?

Sintetizando: (4) quem tá pagando a conta das visitas de vistoria dos estádios?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A escola e o legado esportivo

No mês de dezembro último, a revista do Brasil publicou uma matéria que embora contenha o entendimento questionável, de situar a escola como espaço de formação dos futuros atletas brasileiros, demonstra o quanto ainda temos que caminhar para fazer com que o cidadão, principalmente àqueles em idade escolar, tenha acesso a prática da cultura corporal.

A repórter Cida de Oliveira destaca, logo no início da sua matéria, na página 26, um dado, no mínimo, contraditório para um país sede de dois importantes megaeventos. Nos alerta ela que “No país onde haverá Copa e Olimpíadas, 70% das escolas não possuem quadra, professores suam para conseguir equipamentos e a Educação Física não tem espaço na formação de crianças e adolescentes”.

Essas linhas, que soam como denúncia, traduzem o que há anos vários pesquisadores da educação física/ciências do esporte fazem ecoar em diferentes fóruns da área. O espaço para o ensino da Educação Física na escola é insuficiente para qualquer um dos seus propósitos, independente da abordagem pedagógica definida para o desenvolvimento das suas aulas.

Seja na direção tradicionalmente entendida do ensino da educação física, como momento de desenvolvimento da aptidão física, passando pelas abordagens pedagógicas mais contemporâneas, com influência das ciências humanas e sociais, onde se situam principalmente a crítica-emancipatória e a crítica-superadora, o professor que quiser levar à cabo suas pretensões formativas, terá que se esforçar muito mais do que demanda a sua função docente para vencer a falta de estrutura, espaços e material adequado para suas aulas.

Há casos em que os professores, mesmo com os seus parcos salários, tiram do seu próprio bolso o dinheiro para compra de material pedagógico. Quando não, fazem da sua criatividade, elemento de transformação de cabos de vassoura em bastões, meia e papel em bola de todo tipo e tamanho. “Em Pernambuco, professores e alunos reformam redes velhas, inclusive de pesca, para cestas de basquete, traves de futebol e jogos de vôlei”. (p. 27)

Dados do Censo Escolar, divulgados pelo Ministério da Educação em 2010 e publicado pela reportagem revela a gravidade dos fatos. “72% das escolas de 1ª a 4ª série e 44% das que atendem da 5ª em diante não tem local para aulas de Educação Física. O quadro, que inclui as particulares, é agravado pela carência de cobertura, piso adequado, marcações, bolas, redes, cordas, bastões, traves, colchonetes e demais equipamentos essenciais para as aulas”. (p. 26)

Esta situação é muito pior no norte e nordeste do país, mas os centros mais desenvolvidos economicamente também evidenciam as contradições do país que quer se tornar potência olímpica nos próximos dez anos. Se no “Acre, há quadras em 5% das escolas estaduais de 1ª a 4ª série e em 20% daquelas que atendem a partir da 5ª” (p.27), “Em São Paulo, 20% das unidades estaduais que atendem as quatro séries iniciais não têm infraestrutura adequada”.

Se já não bastassem os problemas infraestruturais elencados, os docentes esbarram em concepções, no mínimo, obtusas de organização do trabalho pedagógico do professor de educação física. O entendimento do governo paulista, por exemplo, traduz bem isso. Para ele, “Os professores não precisam necessariamente estar no ambiente de uma quadra poliesportiva para que o conteúdo de Educação Física seja contemplado. Além das aulas teóricas ministradas em sala de aula, o professor pode levar o aluno a praticar diversas atividades físicas e perceptivas ao redor da escola”. (p. 28 e 29)

As atividades docentes fora da escola são tão fundamentais quanto no seu interior. No entanto, isso não deve ser fator justificador da carência de quadra poliesportiva nas escolas, que é tão necessária para a organização do trabalho pedagógico do professor de educação física, quanto insuficiente, dado o grau de desenvolvimento da disciplina nos últimos anos, que ultrapassa, sobremaneira, os aspectos da “atividade física e perceptivas” dos educandos. Nesse sentido, o “exterior da escola” não deve se resumir ao seu entorno.

Essas situações acabam refletindo na prática dos professores, limitando-a, não permitindo que o processo de democratização, apreensão e ampliação do universo da cultura corporal produzida pela humanidade, traduzida nos jogos, nas danças, nos esportes, na capoeira, nos malabares entre outros, chegue com todas as suas possibilidades e riquezas pedagógicas aos nossos educandos e educandas.

Fico aqui, fazendo minhas, as palavras do professor Roberto Simões, citado na matéria. “Para ele, pouco adianta o propalado legado de infraestrutura que os grandes eventos prometem. O que importa é a construção de um legado socioeducativo, do qual toda a sociedade se aproprie, e não apenas os atletas”. (p. 29).

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Olhemos para a história: é pouca coisa para o povo, muita para o capital

No momento em que o Pan-americano do ano de 2007 foi decidido que iria ser no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, todo o discurso em volta das necessárias construções para abrigar o evento tinha como um dos argumentos o fato das obras servirem para abrigar, também, os Jogos Olímpicos, já que a sagrada família do esporte nacional tinha a pretensão de colocar a cidade como sede dos próximos jogos, pós Londres.

Pois bem. Assim foi feito. Novas estruturas foram construídas. Podemos lembrar do Estádio João Havelange, que passou logo depois para a iniciativa privada e para o clube de futebol, Botafogo, gerenciar e o Centro Aquático Maria Lenk. Este não serve mais para atender os propósitos aventados na época e que garantiram sua construção. Para os Jogos Olímpicos de 2016 abrigará, apenas, as competições de polo aquático e saltos ornamentais. Será necessário construir um novo complexo para abrigá as competições da natação e do nado sincronizado.

Cinco anos bastaram para que a estrutura do Maria Lenk ficasse obsoleta. Atualmente o conjunto aquático se encontra fechado e nem a comunidade de Jacarepaguá, carente de tudo e mais alguma coisa, tem acesso ao centro aquático para usar os seus equipamentos. Isso em um lugar, como muitos em nosso país, altamente carente de espaço de lazer. Um absurdo.

Nem estou mencionando aqui, a reforma pelo qual passa o Maracanã, que teve intervenções importantes no ano de 1999 e no ano de 2005. Ou foram muito mal feitas ou é mais um capítulo da farra com o dinheiro público. As empreiteiras agradecem.

Assim como foi para o Pan-2007, muitos discursos foram e estão sendo produzidos para a Copa e também para os Jogos Olímpicos. Nesses, o cenário é sempre paradisíaco e loucos, do contra, pessimistas, etc, etc, são todos aqueles que se aventuram na tarefa de procurar uma análise mais objetiva, menos emotiva e sem compromisso com o grande capital. Aliás, me permitam dizer rapidamente, estou preparando uma postagem sobre os dez homens mais ricos do Brasil e sua relação com os megaeventos. A proximidade é de assustar. Adianto que, por enquanto, até onde tem ido minhas pesquisas, quatro estão completamente envolvidos.

Mas, voltando ao discurso, nada melhor do que pegar um exemplo concreto para nos ajudar a perceber a realidade por trás dos mesmos. Para tanto, não podemos deixar de nos valer da África do Sul e vamos ficar em apenas dois, para não cansar o leitor.

Em primeiro lugar, a estimativa inicial do evento (Copa de 2010) era de 280 milhões de dólares. Custou 3 bilhões e 700 milhões. Previa-se um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do país na ordem de 3%. Ficou entre 0,2 e 0,3%. Estamos aqui trafegando a pista do aspecto econômico. Se pegarmos a próxima bifurcação e entramos nos aspectos relacionados aos direitos humanos, vamos encontrar absurdos bem maiores. Na época do Pan, refresquemos nossas memórias, oficialmente, 1.330 civis foram mortos pela polícia do Rio. Um recorde indígno de qualquer tipo de medalha.

E o que estamos vendo atualmente? A política de "pacificação" dos morros e favelas; remoções arbitrárias das famílias, muitas com prazo de zero dias para desocupar suas moradias (tratamos disso em uma postagem de abril do ano passado, clique aqui para ler); prisões sumárias de civis entre outros eventos, muitos deles parecidos com os que ocorreram também na África do Sul.

Diante do exposto, precisamos ter muito cuidado sobre o que ouvimos por aí em relação aos megaeventos esportivos no Brasil. Não precisamos passar por tudo o que os africanos hoje passam para percerber o que realmente existe nas entrelinhas do discurso oficial.

Olhemos para a história: é pouca coisa para o povo, muita para o capital.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Não queremos só estádios

Ontem se reuniu no hotel Royal Tulip, no Rio de Janeiro, a diretoria do Comitê Organizador Local da Copa de 2014 (COL) e o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, para avaliar as visitas realizadas nos estádios e estados que sediarão os jogos do certame. Participou também do encontro o secretário-executivo do Ministério dos Esportes (ME), senhor Luis Fernandes.

Em uníssono, expressões positivas sobre as visitas ecoaram para a imprensa. Com exceção da Arena das Dunas, em Natal, que se encontra com as obras deveras atrasadas e, em função disso, ficará sendo monitorada pela FIFA, "(...) as obras estão indo muito bem, os estádios vão ficar prontos no prazo e o brasileiro vai fazer uma excelente Copa do Mundo. Fiquei muito orgulhoso disso tudo". Palavra do senhor Ronaldo Nazário, ex-Corinthians, dublê de cartola e membro do Conselho de Administração do COL.

Mas antes que nos esqueçamos, a Copa do Mundo não se resume a construção de estádios e o brasileiro, que não desiste nunca, já deu provas suficientes de que é capaz de realizar grandes eventos esportivos. Expressão mais recente disso foi o Pan-Rio 2007 e os Jogos Militares de 2010. O que precisamos saber, ou mais do que isso, ficar atentamente vigilante, diz respeito ao conjunto de outros ganhos possivelmente materializáveis em função, dizem, dos megaeventos esportivos no país e que é traduzido pelo discurso oficial como legado.

A questão que se levanta é, portanto, a seguinte: as obras nos estádios vão relativamente bem. Mas e a chamada mobilidade urbana? Como andam as construções e modernizações dos aeroportos? O que dizer dos portos e da infra-estrutura relacionada ao turismo? As cidades que não serão sede de nenhum jogo oficial da Copa, mas que servirão de lugar para aclimatação das equipes estrangeiras, como estão? E as rodovias federais? Essas e muitas outras perguntas, passados mais de quatro anos do anúncio do Brasil como sede do evento, continuam sem respostas satisfatórias.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Esporte e "estupro"

O estupro é um ato de violência, com toda a certeza. E outros existem e assistimos passivamente, sem questionar. Pobreza, analfabetismo, fome, desemprego, etc, etc, etc. Pensando sobre isso com os meus botões, surgiu este rosto desfigurado de um lutador de MMA. Não estaríamos assistindo a um ato violento consentido, protagonizado, também, pela Rede Globo?

A grande família

Chega hoje em Salvador, para inspeção oficial em relação ao andamento das obras e outros penduricalhos relacionados ao maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol de Campo, três dos componentes da grande família: o senhor Gérôme Valcke, secretrário geral da Fifa; Aldo Rebelo, Ministro dos Esportes e Ronaldo, ex-fenômeno e atual dublê de cartola, membro do Conselho Administrativo do Comitê Organizador Local (COL), empossado recentemente pelo insuspeito senhor Ricardo Teixeira, que dispensa maiores apresentações.


Salvador será a segunda cidade, depois de Fortaleza, a receber a visita desses "senhores dos anéis", honraria também de todas as outras cidades-sede do mundial.


Figuras locais, travestidas de autoridade máxima em relação ao evento comandado centralmente pela FIFA (que pelas suas próprias leis cria um estado dentro do Estado) também participarão do périplo esportivo local. O pior prefeito do país, o senhor João Henrique, o governador de "todos os nós", o senhor Jacques Wagner  que, obviamente, terão aos seus lados diversos representantes do nosso organizado município e do nosso rico Estado, que expressam suas contradições nas cifras oficiais.


Dos 26 Estados da Federação, Salvador permanece com o pior indicador baiano em relação a educação. Na saúde, é o 23º. O 2º pior município em indicadores sociais fica na Bahia. Trata-se de Lamarão, localizado no semiárido, a 631 Km de Salvador. E o primeiro em violência também fica na Bahia, trata-se de Simões Filho, a pouco mais de 30 quilômetros de Salvador.


No conjunto desta contradição, dados do CEPAL e UNICEF de 2011 apresentam a sexta economia do mundo em 7º lugar no ranking de crianças e adolescentes que vivem abaixo da linha de pobreza. São 81 milhões em toda a América Latina, 45% do total em relação ao mundo, quase a metade. Destes, 38,8% estão no nosso Brasil varonil.


Mas a grande família trará mensagens de otimismo, esperança e auto-estima. Idealisticamente dirá que a Copa do Mundo é importante por agregar valor a vários elementos tangíveis e intangíveis que farão da Bahia e principalmente, do Brasil, redescoberto pela Europa como o país que tá dando certo em meio a uma crise do capital, um protagonista mais valoroso ainda no cenário mundializado.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Preparem os bolsos

Como já era esperado, os valores iniciais (em milhões de reais) das obras relacionadas aos megaeventos esportivos no Brasil seguem de vento em polpa, ou seja, com alterações para cima na sua imensa maioria. Exceção apenas para a Arena Amazônia (era 533, está em 532,2). Nos demais estados que sediarão o evento futebolístico de maior apelo mundial, as alterações são sempre para cima e além.

Vejamos. Maracanã (era de 828, está em 931); Fonte Nova (era de 592, está em 597); Estádio Nacional, do Distrito Federal, (era de 671, está em 846); Estádio das Dunas (era de 413, está em 417); Castelão (era de 452, está em 518,6); Beira Rio (era de 154, está em 290); Arena da Baixada (era de 185, está em 234); Arena Pernambuco (era de 491, está em 532); Mineirão (era de 684, está em 695); Itaquerão (sem previsão de custo inicial. O "final" está em 890).


Alguns destes estádios ainda faltam licitar itens, tais como: construção de cobertura e compras de gramados e cadeiras. É o caso da Arena Pantanal (está em 597, mas falta licitar a cobertura) e o Estádio Nacional, que apesar de ter tido uma majoração de quase duzentos milhões, não chegou a um valor "definitivo", pois falta licitar o gramado e as cadeiras.


Segundo a fonte consultada, "A previsão oficial do custo de construção e reforma dos estádios que serão utilizados na Copa do Mundo de 2014 já subiu R$ 590 milhões desde janeiro de 2010, quando foi assinada a Matriz de Responsabilidade da Copa pelos governos federal, estaduais e municipais que receberão os jogos".


Na época da assinatura da Matriz supra citada, o Ministério dos Esportes previa um custo total de 5,6 bilhões de reais para as obras de todas as arenas que sediarão jogos da Copa 2014. Em pouco mais de dois meses, de novembro de 2011 para cá, a cifra foi alterada, chegando aos valores atuais de 7,08 bilhões de reais.

Fonte consultada para a postagem: UOL.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dossiê dos Comitês Populares da Copa


Ao visitar o blog Observatório da Mídia Esportiva, uma iniciativa do coletivo de pesquisadores do LaboMídia, da UFSC/UFS, tive conhecimento deste dossiê através da postagem "O amor pelo esporte é a hipnose dos desavisados - um alerta à população", (leia a postagem clicando aqui) do professor Galdino R. Sousa. Pelos dados que o mesmo apresenta e que falam por si, socializo o documento com os leitores do Esporte em Rede ao tempo em que conclamo à leitura, acessando o mesmo na íntegra clicando aqui.

A contradição em termos


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Brasil não é a África: e daí?

No ano de 2010 tivemos, pela primeira vez na história do mundial de futebol, uma Copa do Mundo em solo africano. Com certeza, um acontecimento para ser lembrado pelos nativos e por todos os povos do mundo inteiro durante muitos e muitos anos. Tanto pela sua relevância histórica, quanto pelos temas que animou.

Durante os preparativos para a realização dos jogos, muito foi dito. Várias foram as avaliações dos diferentes especialistas nos mais variados assuntos. Falou-se sobre aeroportos, novos estádios, mobilidade urbana, marketing esportivo, entre outros, temas sobre os quais estamos já bastante familiarizados.

Para uns, a Copa do Mundo na África do Sul seria uma oportunidade ímpar para potencializar o crescimento econômico do país, viabilizando ações que contribuiriam com o desenvolvimento da infra-estrutura geral, principalmente das cidades-sedes e, por tabela, mexeria com a alta-estima de todos os cidadãos da nação africana. Sem falar nos ganhos intangíveis que só aparecem, segundo especialistas em megaeventos esportivos, anos e anos após a realização dos mesmos e que não existe maneira de mensurar nem de constatar o seu impacto no processo avaliativo. Só mesmo a história, ciência do tempo, pode demonstrá-los.

Para outros, tudo não passava de simples falácia, retóricas que por sua extrema força ideológica, ao apresentar os elementos positivos, alguns supra citados, velava outros tantos, os de reais interesses dos membros da FIFA, das corporações das mais distintas, dos patrocinadores e de membros dos governos (federal, estadual e municipal). Era necessário que o povo todo acreditasse que a Copa da África era para o bem geral da nação africana.

Uma dessas vozes destoantes em relação aos otimistas de plantão, era de um economista da Universidade de Kwa-Zulu Natal, que mantinha, junto com outros intelectuais da mesma instituição de ensino, um site na internet, chamado de Observatório da Copa do Mundo. Segundo ele, “não é do real interesse de nenhum dos entes envolvidos na organização do evento – FIFA, governos e patrocinadores – promover reais avanços na vida cotidiana do país. Menos ainda referenciados na justiça e progresso social”. (Citação retirada do Correio Cidadania. Acessada em 19/07/2010).

Passados já um ano e alguns meses do evento que iria trazer a Terra Prometida para os africanos, eis que os dados da realidade da Nação projetam uma situação por demais frustrante, de fazer corar de vergonha os mesmos otimistas, muitos deles já devidamente encastelados em terra tupiniquim e outros tantos, há tempos, com residência fixa nas federações e confederações brasileiras, exercitando a política das monarquias absolutista.

Matéria do Correio do Brasil, publicada ontem, ao trazer uma reflexão crítica sobre o CNA (Congresso Nacional Africano), que expulsou o Partido Nacional (exclusivo para brancos) do poder em 1994 e parece não fazer valer o seu slogan de fundação (em 1912), “uma vida melhor para todos”, nos presenteia com alguns dados que demonstram a falácia do potencial desenvolvimentista dos megaeventos esportivos.

Segundo a matéria (leia na íntegra clicando aqui) “Os únicos sul-africanos que realmente desfrutam de uma “vida melhor” são os 3 milhões integrantes da classe média negra – apenas 6% da população de 49 milhões de habitantes. Aproximadamente 40% da população (20 milhões de pessoas) vive abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos de 50 euros por mês.”

O texto do qual os dados foram retirados diz respeito à dinâmica da política partidária do país. Faz uma crítica ao CNA e suas políticas, não tratando de forma específica do tão propalado legado esportivo, que ganha cada vez mais força semântica e tem a potência de tudo explicar.

Mas creio que o mesmo nos serve de alerta e nos ajuda a pensar sobre os reais interesses dos mega-eventos esportivos no Brasil em 2013 (Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Jogos Olímpicos) em contexto de crise política e econômica na Europa, berço tradicional do futebol.

Sabemos que o Brasil não é a África do Sul e que a tradição do futebol é muito mais enraizada no nosso solo e isso pode, dizem, fazer alguma diferença. Por outro lado, sabemos também que são os mesmos “senhores dos anéis” que estão organizando os megaeventos esportivos na “nossa pátria mãe gentil”.

Se lá na África, repetindo o economista Patrick Bond, da Universidade de Kwa-Zulu Natal, não era do interesse “(...) de nenhum dos entes envolvidos na organização do evento – FIFA, governos e patrocinadores – promover reais avanços na vida cotidiana do país. Menos ainda referenciados na justiça e progresso social”, por que no Brasil será diferente?

domingo, 8 de janeiro de 2012

Haverá tempo?

Como todos nós sabemos, em 2014 teremos no nosso país a Copa do Mundo de Futebol. Temos, portanto, um pouco mais de dois anos para este grande evento esportivo e o que mais nos preocupa é que muitas coisas ainda estão para serem feitas, muito embora os recursos do tesouro estejam disponíveis e sendo sacados pelos órgãos responsáveis pelo evento.

Ao consultarmos os dados contidos no Portal da Transparência do Governo Federal, constatamos que dos 27 bilhões de reais previstos no momento para os diversos investimentos nos âmbitos municipais, estaduais e federais, apenas R$ 9 bilhões e 800 milhões foram contratados e, destes, R$ 1,4 bilhões foram executados, o que representa um pouco mais de 5% das obras necessárias.

Se focarmos nossas análises apenas no quesito estádio de futebol (rejeitando momentaneamente os relacionados aos aeroportos, portus, mobilidade urbana entre outros), principal palco dos jogos que serão realizados por diferentes seleções do mundo, vamos constatar que os passos das tartarugas são mais céleres.

Para este quesito, do total previsto de 3 bilhões e 300 milhões de reais, foi contratada a quantia de R$ 2,2 bilhões e apenas 276 milhões de reais foram executados, o que equivale a pouco mais de 8% das obras. Isso às vesperas da Copa das Confederações, que ocorrerá um ano antes da Copa do Mundo de Futebol.

Pensando com a cabeça dos empreendedores, o prazo é extremamente exíguo. O que preocupa todos que querem que as coisas ocorram de forma lícita, coisa muito difícil de acontecer quando corremos contra o tempo.