domingo, 28 de novembro de 2010

A violência olímpica!!!

Automóveis e ônibus incendiados no Rio de Janeiro por supostos traficantes. Duas meninas, uma de 13 e outra de 16 anos decapitadas por prováveis marginais em Salvador. Quando não são estes a provocarem desordens, eis que temos a polícia como protagonista. Seria marginal ou traficante o policial que matou o menino Joel Castro, de apenas 10 anos de idade, no bairro do Nordeste de Amaralina, na soterópolis de todos os santos, encantos e axés?

Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa? Salvador. Terra da Felicidade? Em uma e em outra a expressão concreta da falência do Estado burguês, da forma como nós produzimos e reproduzimos a nossa existência, do modelo excludente no qual se desenvolvem as políticas em suas diversas e diferentes facetas, materializadas na parceria híbrida entre o público e o privado.

Me respondam, por favor. Qual a grande preocupação do momento? A falência do Estado já aludida? O cerceamento da liberdade ir e vir? A morte de inocentes nessa guerra urbana? Não. A preocupação lá na ex-cidade maravilhosa e que se expraia para todo o país é se o Brasil, com todos esses problemas que estão sendo vistos por todo o mundo via jornais, televisão, internet entre outros, realmente vai poder realizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Tergiversando, paralelamente a esta preocupação, aparece a capacidade da maravilhosa ex-cidade, atual campo de guerra, de acolher os turistas.



Parece piada, mas é tragédia por várias vezes anunciadas e realizadas. E o pior, cedo ou tarde se repetirá, se nada concretamente for feito. E não estou falando de mais polícia, exército na rua nem, tampouco, das UPPs (Unidades de Policiamento Permanente).

E sobre o Joel, o menino de dez anos que sonhava em ser capoeirista, tal como o seu pai e a decapitação das meninas, o que o desfecho destes trágicos episódios nos ensina? Que a Bahia, assim como o Rio de Janeiro e todo o Brasil, caminha sob a barbárie, alimentando e retroalimentando o "ornitorrinco", se desenvolvendo de forma desigual e dependente.

Há quem tire, dessas tragédias, gracejos, exposição cruel do tão propalado espírito esportivo que nós, brasileiros, temos como ninguém e que nos ajuda a suportar as agruras do dia a dia. Dizem por aí que pelo menos seremos exitosos nos esportes de corrida, principalmente os cem metros rasos. Obteremos sucesso também na modalidade de tiro, esporte que há mais de 90 anos não conseguimos sucesso.

Ganharemos muitas medalhas de ouro e teremos, portanto, motivos para celebrar, festejar, tal como fizemos em plena copacabana da então cidade maravilhosa quando do anúncio do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2014. Acreditaremos, mais uma vez que tudo vai dar certo, pois este é um país que apesar dos pesares - e bota pesar nisso - dorme-se muito bem no chão frio, sob marquises em noites geladas e inúteis cobertores e come-se em pratos de ouro com talheres de prata.

Enquanto isso, Joel Castro e as meninas Janaína Brito Conceição e Gabriela Alves Nunes se somarão a muito outros "joeis", "janaínas" e "gabrielas" e engordarão os frios números das estatísticas sobre a violência brasileira.

Mas quantas medalhas seremos capazes de ganhar nas Olimpíadas mesmo?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Por que o espanto?

Causou espanto no mundo animal o fato de Ricardo Teixeira poder ser beneficiado com 100% do capital relacionado a toda e qualquer transação envolvendo a Copa do Mundo de futebol que será realizado no Brasil no ano de 2014.

Isso porque o dito senhor é não só Presidente da Confederação Brasileira de Futebol como, também, responsável pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL). Isso o tornou detentor do direito de gerenciar o dinheiro arrecadado da forma que bem lhe convier.

Evidente que podemos contar com a boa vontade deste senhor e o dinheiro ser remetido para projetos sociais fundamentais para o desenvolvimento da nação brasileira. Mas convém também lembrar que o dinheiro pode ser direcionado para si mesmo e/ou para projetos de interesses da Confederação Brasileira de Futebol, o que ao fim e ao cabo acaba sendo a mesma coisa.

Algo interessante e suspeito no contrato entre as partes diz respeito a modificação dos fins do Comitê. Quando o mesmo ainda disputava o direito de sediar o evento, era sem fins lucrativos. Depois que o Brasil foi confirmado como sede da Copa 2014, pirlimpimpim, o Comitê se metamorfoseou-se. Agora o mesmo é uma "sociedade limitada com regras próprias para distribuição dos lucros a serem obtidos" (LANCENET).

Mas o que me espantou mesmo foi menos a manobra deste senhor e mais o assombro dos jornalistas que noticiaram o fato. Por que o espanto? Esperavam o quê deste representante dos senhores dos anéis, sendo ele mesmo uma das figuras centrais deste feudo futebolístico que impera neste país e parece que não vai acabar nunca?

Saiamos da esfera da Confederação e do COL e lancemos os nossos olhos nos clubes. O que vemos? 259 mortos com direito a voto nas eleições para presidente do Fluminense Esporte Clube, a se realizar no dia 30 de novembro. Espantado?

Voltemos os nossos olhos para a entidade maior do futebol, a FIFA. O que encontraremos? Dois integrantes da Federação maior do futebol mundial flagrados "pedindo dinheiro em troca de votos na eleição dos países que abrigarão os Mundiais" de 2018 e 2022. Um deles, além de presidente da confederação da Oceania era nada mais, nada menos do que vice-presidente da FIFA. (Carta Capital)

São por essas e outras, muitas outras coisas que já sabemos e que aparecerão mais na frente que pergunto: por que o espanto?

domingo, 14 de novembro de 2010

As contradições de sempre!!!

TEXTO ESCRITO PELO PROFESSOR ALAN JONH

O presidente do PC do B, Sr.Renato Rabelo, se reuniu nesta última terça-feira, 09 de novembro com o presidente do PT José Eduardo Dutra integrante do governo de transição e defendeu a manutenção do partido a frente do Ministério dos Esportes.

Tudo leva a crer que a solicitação seja atendida e que o partido continue no Ministério. Já que o ministro Orlando Silva está à frente das atividades que envolvem a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Análises da política de esporte nos apontam que o investimento prioritário no esporte de alto-rendimento e a realização de mega-eventos esportivos foi à tônica central do governo nos últimos anos no campo das políticas públicas de esporte e lazer.

Em tempos de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, o esporte tem se apresentado como valioso instrumento de ampliação da desigualdade social e da concentração de renda em nosso país.

Justifica-se que o alto investimento no esporte de rendimento seria uma medida de suma importância para o desenvolvimento esportivo e para a melhoria do desempenho dos atletas em competições internacionais.

Entretanto, experiências de popularização dos esportes em diversas nações demonstram que outra via é possível, possibilitando-nos resultados muito mais duradouros e condizentes com a melhoria das condições de saúde da comunidade e até mesmo do desempenho competitivo.

O futebol no Brasil, o basquete nos EUA, o tênis de mesa no Japão, o kung-fu na China, o Xadrez em Cuba são alguns bons exemplos de que a socialização dos esportes deve ser o primeiro passo na política de esportes nacional.


A justificativa para os altíssimos investimentos nesses mega-eventos esportivos é que ficaria um legado de infraestrutura e se ampliaria a prática esportiva no país.

Entretanto os jogos Panamericanos realizados no Brasil em 2007, apresenta-nos provas concretas do contrário.

Neste episódio pudemos observar: ataques a populações locais na tentativa de esconder as gritantes desigualdades sociais da cidade; falta de prestação de contas de mais de 1 milhão de reais, entrega de diversas construções realizadas com dinheiro público para mão de iniciativa privadas, gastos públicos absurdos na construção de espaços com possibilidade bastante limitada de vivência efetiva do esporte.

Um bom exemplo é o estádio Engenhão, orçado inicialmente em R$ 100 milhões tendo um custo total bem acima do valor orçado, custando aos cofres públicos cerca de 300 milhões e entregue ao clube de regatas botafogo por R$ 40 mil mensais mais custos de manutenção. Os gastos gerais com o evento estavam previstos em R$ 532 milhões e os gastos gerais com o evento chegaram a R$ 3 bilhões.

Segundo cálculos preliminares da CBF, espera-se que o governo gaste cerca de R$ 11 bilhões para se preparar para a copa de 2014. Já o projeto dos Jogos Olímpicos de 2016 está estimado em R$ 25,9 bilhões.

Segundo plano de gasto alternativo elaborado pelo movimento planeta sustentável com base em órgãos governamentais, só o recurso de R$ 11 bilhões da copa de 2014 daria para se investir: R$ 2,1 bilhões na expansão do saneamento, levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões – cerca de 20% do déficit de saneamento. (Segundo dados do IDH divulgado essa semana o país tem 20% da população sem acesso a saneamento e 57% dos brasileiros não têm coleta de esgoto. Dados do senso 2010 do IBGE aponta que o país têm 185 milhões de habitantes); R$ 2,8 bilhões para financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares – 6% do déficit habitacional; R$ 2,8 bilhões para levar luz a 1,6 milhões de pessoas no campo – 13 % da população sem aceso à energia; R$ 1,4 bilhões para ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever - o que nos daria um saldo de 4% a menos de analfabetos no país; R$ 700 mil para levar o programa Saúde da Família a mais de 2 milhões de pessoas – o que superaria a população de Curitiba ou Recife.


Em paralelo a esses gastos absurdos, a esse derrame de dinheiro, a maioria das escolas públicas não tem quadras esportivas e grande parcela da população tem dificuldades de acesso aos serviços de saúde. As oportunidades de lazer são extremamente reduzidas, falta moradia, saneamento básico e alimentação, os recursos destinados à educação e saúde estão bem abaixo do necessário.

As contradições seguem seu curso. Na semana passada, o ministro Orlando Silva defendeu o investimento de prefeituras nos eventos. No caso de São Paulo o ministro defende o investimento dando exemplos de outros gastos nesse sentido e pra nosso espanto cita o caso desta mesma prefeitura que gasta R$ 28,30 milhões anuais em Interlagos para receber a Fórmula 1.

Aos que diante dos fatos se refugiam em discursos do tipo: esses eventos são importantes para confraternização entre os povos, para o intercambio cultural entre as nações. Nós lhes apresentamos uma necessidade ainda mais básica de cooperação: a de alimento.

Dados apontam que atualmente a produção de alimentos é superior a capacidade de consumo humano. Entretanto, temos hoje 1 bilhão de pessoas com fome no mundo, muitas delas crianças. 25 países apresentam condições alarmantes. A República Democrática do Congo tem 75% de sua população subalimentada.

Enquanto isso, esporte só como espectador. Empresas da construção civil se deleitam com os investimentos públicos e continuam espoliando os trabalhadores e o presidente LuLa ainda chora de felicidade com a vinda dos Jogos Olímpicos para o país.

domingo, 7 de novembro de 2010

Abra o olho, Dilma.

Dilma Rousself venceu. Os prognósticos se confirmaram e teremos após passada a primeira década do século vinte e um, o Brasil, o maior país da América Latina, governado por uma mulher.

Para chegar até aqui, Dilma precisou conquistar não só os votos dos eleitores, mas, também, disputar uma batalha contra o preconceito, o obscurantismo, a vilania, os factóides e tudo o que há de mais baixo em um processo de disputa. Até bolinha de papel virou um “pertado de dois quilos”, segundo depoimento do Vice do candidato derrotado à presidência da república, José Serra, o senhor Índio da Costa.

Diante de tantas coisas periféricas, muitos elementos centrais para o desenvolvimento da nação ficaram por ser dito. Dentre esses elementos temos o que diz respeito a gestão esportiva nacional. Como será, no governo de Dilma Rousself, desenvolvidas as políticas de esporte e lazer? Teremos mudanças substantivas? O povo de uma maneira geral terá acesso aos bens da cultura corporal produzidos ao longo destes milênios? Ou, simplesmente, teremos mais do mesmo?

Alguns desavisados podem imaginar que isso não é importante para o país, que existem outras necessidades sociais mais emergentes como a questão da habitação, violência, educação entre outros. O esporte e sua vivência é artigo de luxo e, como tal, não deve ser priorizado.

Para esses, enfatizo que o nosso país se credenciou para abrigar vários eventos esportivos importantes como os já sabidos Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, entre outros e que, no mínimo, a presidente eleita deve sim se preocupar com isso, para que mais uma vez e novamente o dinheiro público não seja canalizado pelo ralo da improbidade administrativa, gestão fraudulenta e enriquecimento ilícito entre outros, elementos que vem sendo sobejamente evidenciados pelo Tribunal de Contas da União quanto mais ele se debruça e se aprofunda sobre o Pan-Americano realizado no Rio de Janeiro em 2007.



Aliás, alguns gestores do Pan-2007, certo da impunidade das suas ações, continuam agindo em benefício próprio, se aproveitando das Olimpíadas que acontecerão no Rio em 2016, conforme nota publicada em 22 de outubro no Blog do Cruz. Estão de olhos gordos no montante de 27 bilhões de reais que o governo federal tem só para o evento Rio-2016. É muito dinheiro, mas com certeza, insuficiente para o apetite voraz dos “senhores dos anéis”.

São por essas e outras que se torna fundamental um programa substantivo, transparente e amplamente democrático para os próximos anos do governo federal no tocante ao esporte nacional e a ausência deste no debate político entre os principais candidatos à presidência do maior país da América Latina que se quer potência olímpica foi lastimável.

Cada centavo destes bilhões iniciais é meu, é seu, caro leitor, é nosso! Devemos ter conhecimento da aplicação destes e, por que não, ser consultado sobre o horizonte do seu investimento. Se sirvo para eleger um presidente, senador, deputado, prefeito, vereador neste país, por que não sirvo para opinar sobre o destino do meu dinheiro?

Abra o olho, senhora presidente. Se deixares os mesmos “esportistas” que geriram o esporte nesses últimos anos onde e como estão, estarás abrindo a caixa de pandora, com agravante perda da esperança.