sexta-feira, 30 de julho de 2010

A fórmula 1 e o espírito do tempo

O circo da fórmula 1 ficou em polvorosa pelo acontecimento entre Fernando Alonso e Felipe Massa no último Grande Prêmio, ocorrido na Alemanha, onde este último foi obrigado pela sua equipe, Ferrari, a deixar o seu companheiro passar para chegar em primeiro lugar. Mas os palhaços somos nós, os incautos, ingênuos telespectadores que ainda acreditam no esporte como um campo de disputa limpa, honrosa, repleto de valores altruístas expressos no anódino fair play ou na máxima de que o importante é competir.

Outros, não tão ingênuos assim, pois se trata de opinião balizada pela experiência no circo da fórmula 1, dizem que fatos como este quebram a essência do esporte. Jornalistas do calibre de Téo José e Reginaldo Leme escorregam nesta casca de banana. No meu entendimento, dizer que este fato quebrou a essência do esporte soa como poético, mas está longe de ser uma verdade. No máximo, uma frase de efeito, simplesmente porque esporte é negócio e o que prevalece há muito tempo na sua lógica é a capacidade que o mesmo tem ou pode vir a ter de reproduzir e ampliar um determinado valor do capital investido, dos mais distintos, inclusive os ilegais. Lembram-se do MSI-Corinthians?

Capital aqui é relação social, não confundam com dinheiro. Enquanto nós, simples torcedores, somos movidos pela paixão, pela emoção proporcionada pelo esporte, este é movido pelo negócio. Sport is business.

Para os puritanos e moralistas que esbravejam que o Massa não poderia atender a solicitação, que deveria peitar, como homem, o chefe da equipe, esses mesmos que também crucificaram o Rubens Barrichello em 2002 por situação semelhante, aviso que existem contratos firmados entre piloto e equipe, cheios de cláusulas que impedem a autonomia do piloto assim como o capital impede a autonomia de qualquer trabalhador. Mandar o Felipe Massa ter vergonha na cara em função da sua atitude anti-esportiva é ridículo, fruto da ignorância das relações sociais que regem o capitalismo.


Para os românticos, as suas lembranças estão a clamar os nomes de Senna, Piquet, Fittipaldi, Mansel, Prost entre outros. Melhor seria que desligassem a TV e fossem passear no parque.

Todos esses incautos, ingênuos, puritanos, moralistas, românticos entre outros se esquecem de que em 2009 o banco Santander firmou parceria com a Ferrari, tornando-se o patrocinador oficial da escuderia italiana até 2014. Dias depois a Ferrari anunciou a contratação do piloto Fernando Alonso. O Santander, assim com Alonso, é da Espanha e foi quem também patrocinou o último Grande Prêmio, realizado na Alemanha, no circuito da cidade de Hockenheim.

Alguma dúvida sobre o resultado desta equação? Há muito que aprendi que quem paga a banda, escolhe a música. O lado comercial sempre irá vencer a tal “essência” do esporte. Aliás, o que existe, no momento no mundo do esporte, nem é um lado ou outro. São um e o mesmo lado. Esporte e negócio têm uma relação simbiôntica, de pertencimento cada vez mais forte e orgânica. Um não existe e sobrevive sem o outro.

Este é o espírito do tempo, na fórmula 1 ou em qualquer outra modalidade esportiva, assim como no mundo dos homens.

domingo, 25 de julho de 2010

Mídia, ideologia e esporte

Estive em Fortaleza no último dia 21 de julho, quarta-feira, participando de uma mesa cuja a proposta era discuti as política de mega-eventos dos governos federais e estaduais junto aos alunos e professores de educação física que participavam do seu XXXI Encontro Nacional. A mesa foi em um ginásio de esportes do curso de educação física da Universidade Federal do Ceará, Campus do PICI. Presentes em torno de 600 participantes, num total de quase mil.

A parte que me cabia, sugerida pela ementa que me foi enviada pela Comissão Organizadora, dizia respeito a "fazer uma crítica aos meios de comunicação e sua influência na opinião pública, perpassando pela discussão de ideologia, controle social, poder e comunicação no que se refere à Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas no Brasil. Trazer elementos para a discussão sobre a manipulação das informações e como a mídia burguesa contribui para formar opinião e transmitir valores".

Iniciei conceituando mídia e situando a mesma, me valendo do Venício Lima, como um partido político, já que a mesma: a)constrói a agenda pública; b) gera e transmiti informações políticas; c) fiscaliza as ações de governo; d) exerce a crítica das políticas públicas e e) canaliza as demandas da população. (LIMA, 2006, p. 56).

Esses elementos são preocupantes, já que alguns indicadores apontam que somente um de cada brasileiro entre 15 e 64 anos conseguem entender as informa~ções de textos mais longos e relacioná-los com outros dados e 30% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais ou "alfabetizados rudimentares" que não conseguem, por exemplo, entender as orientações escritas por um médico.

Por que preocupante? Porque simplesmente 58% dos brasileiros declaram ter na televisão sua principal fonte de informação política (Vox Populi, 2006). Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, indica que 95,1% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de televisão. Portanto, podemos dizer que os brazukas tem na televisão o seu principal veículo de informação e se consideramos que a mídia, principalmente a televisão tem uma relação de pertencimento com o esporte, onde um não vive sem o outro, e considerando que o mesmo agrega valor substantivo aos produtos "colados" ao mesmo, podemos raciocinar na direção de que é muito pouco provável de que a mídia terá uma avaliação isenta sobre os chamados mega-eventos, colocando para a população de uma forma geral os pontos positivos e amenizando os negativos dos eventos Copa 2014 e Olimpíadas 2016.

Aqui entra a questão da ideologia. Se utilizando de uma das manobras do discurso ideológico, a generalização de casos particulares, as diferentes mídias e fundamentalmente a televisa, procura apresentar casos particulares de experiências exitosas, como as Olimpíadas realizadas na Espanha, para justificar a importância dos eventos e promover o consenso no conjunto da população.

Esquecem ou se omitem, ou se utilizam de uma outra estratégia ideológica (o discurso lacunar), de apresentarem estudos já realizados e que apontam interesses corporativos pelos mega-eventos, situando o mesmo como um movimento mais do que necessário, em função das crises estruturais do sistema, de reprodução do capital e de que os dados apontam que os benefícios estruturais colados aos eventos para justificar mais uma vez os mesmos poderiam muito bem serem materializados independentes da Copa e das Olimpíadas e com um custo muito menor. Custo esse que, embora orçado atualmente em 24,6 bilhões de dólares (só a Copa, ok?) tem uma projeção orçada em 100 bilhões até o final do evento.

O esporte, principalmente o futebol, entra nesta dinâmica como um elemento mediador, entre tantos outros, que potencializam os processos ideológicos da classe burguesa, catalizando desejos e valores na direção dos seus interesses de classe, operando inversões da realidade, desenvolvendo processos de fetichizações através do reinado das coisas e promovendo a alienação.

Tipos ideais de modalidades esportivas são apresentados, sem nenhuma consistência no real. O próprio discurso esportivizante da escola pública como base para formar atleta esquece de mencionar o sucateamente da mesma e a carência, só no Estado da Bahia, de mais de 80.000 (oitenta mil) professores na rede, enquanto o governo federal retira 28 bilhões do orçamento para a educação. O discurso que promove o volutarismo através do esporte esquece de mencionar o necessário papel do Estado no desenvolvimento de políticas para o público, colocando, no cidadão comum, a responsabilidade em sanar as lacunas do sistema.

Outra questão que podemos mencionar é a apresentação, no discurso ideológico via televisão, do esporte como receita e remédio para todos os males da sociedade. A droga tá correndo solta na comunidade? Esporte. As crianças estão violentas? Esporte para canalizar essas energias raivosas. Além do mesmo poder, de lambuja, promover a ascensão social, afinal de contas, quantos marginalizados socialmente não modificaram o seu status quo pelo esporte?

Como estratégia de resistência a esse discurso ideológico promovido pela mídia, precisamos saber dialogar com a população, disseminando informações poucos conhecidas. De nada adiantará um discurso raivoso, negativista, não dialético em relação aos mega-eventos. Aproveitar do que dizem que precisam fazer como melhoria estrutural necessária para sediar o evento e pressionar para que se cumpra de forma transparente é uma possibilidade. A questão da MOBILIDADE URBANA, DE HABITAÇÃO, MELHORIA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS, entre outros, interessam à todos nós e podem ser elementos importantes para mobilizarmos a população para além dos megaeventos esportivos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Contrato sem licitação

No dia 13 de junho, um mês e alguns dias atrás, postamos um texto cujo título era “Arena Fonte Nova em Suspeição”. Nele dizíamos que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) da Bahia questionava o contrato assinado entre o Estado e algumas empreiteiras ligadas à construção civil.

Apesar dos questionamentos do TCE e também do Ministério Público Federal (MPF), que na época impetrou um agravo de instrumento na justiça, solicitando suspensão da verba que seria liberada pelo BNDES para a execução da obra na Fonte Nova, pelo menos até que o agravo de instrumento fosse julgado, as obras de demolição começaram, restando apenas o anel superior da agora ex-Fonte Nova.

Apesar do TCE e do MPF contestarem na forma da lei a maneira como a obra vem sendo gerida, a mesma segue célere, como se nada estivesse sendo dito pelos órgãos de mediação entre a sociedade civil e a sociedade política.

Eis que esta semana o MPF entrou mais uma vez em cena. Agora para questionar o contrato de execução e fiscalização do projeto e limpeza do terreno feito pela Secretaria Estadual do Trabalho e Esportes (Setre) junto às empresas Tecnosolo e Engeprol. Mais cinco empresas apresentaram propostas para execução dos serviços.

A Tecnosolo foi a responsável pela contrução do Parque Olímpico do Rio de Janeiro, parque este destinado aos jogos Panamericanos de 2007 e, também, foi responsável na década de 80, pelo projeto e construção da infra-estrutura da sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, responsável agora em liberar o dinheiro para a execução das obras.

O questionamento do MPF diz respeito ao contrato firmado pela Setre “de dispensa de licitação de R$ 1,2 milhão” em favor das empresas acima citadas. “A procuradora da República, Juliana Moraes quer analisar a justificativa legal da Setre para a dispensa da licitação, por via emergencial” (A TARDE, Salvador A4, 17/07/2010)
A questão posta pela Procuradora da República diz respeito ao por que o edital de licitação em relação a obra foi lançado em outubro de 2009 e o outro, sobre a execução, fiscalização e retirada dos entulhos, somente agora? Por que os dois não foram lançados juntos, evitando o dispositivo da “via emergencial”?

Ainda segundo a reportagem da A TARDE, “O contrato por dispensa de licitação para fiscalização das obras da arena também foi requisitado por auditores do TCE”. Eles querem “analisar o contrato e a justificativa para a dispensa licitatória por via emergencial”.O TCE também requisitou o contrato emergencial para análise da justificativa que levou o dispositivo da via emergencial.

Outro elemento entra em cena. A morte do diretor-superintendente da Tecnosolo, o senhor Manoel Claudio P. Cavalieri, assassinado, no Rio de Janeiro, dias depois de assinar o contrato. Para a Polícia carioca, tratou-se de latrocínio, muito embora os ladrões não tenham levado nada da vítima.

A Arena Fonte Nova, que ocupará uma área superior a 121.000 metros quadrados terá uma capacidade para 50 mil lugares fixos podendo, caso necessite, como na hipótese remota de sediar o jogo de abertura da Copa 2014, ampliar sua capacidade para mais 14 mil. O custo atual da construção está orçado em R$ 591,7 milhões.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Às eleições, Brasil!!!

Depois de trinta dias só vendo, ouvindo, analisando e curtindo o futebol, chega ao fim a décima nona edição do maior espetáculo monoesportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol, que nesta edição foi promovida pela primeira vez em um país do continente africano, a África do Sul.

As bandeiras brasileiras começam a sair das paredes, sacadas dos prédios e das janelas dos carros. Um tom discreto de uma indisfarçável inveja invade as barbearias, os bares e todos os espaços onde existam mais de um aficcionado pela "modalidade esportiva" de nome BOLÃO, pelos acertos de um certo polvo, o Paul. Há quem afirme que a voz do polvo é a voz de deus e o mesmo estará anunciando em breve os números da mega-sena.

Brincadeiras à parte, o fato é que se a Copa "acabou" para os sul-africanos, ela começa para todos nós, brasileiros e brasileiras, ufanistas ou não, pois o próximo mega-evento será em 2014 em nosso solo já não tão verde devido ao desmatamento e nem tão amarelo, pela cupidez e corrupção das nossas elites nacionais.

Para quem ainda não se deu conta e ainda está em processo de cura da ressaca futebolística, lembramos que este ano é ano de eleição. Cargos importantíssimos estarão em disputas. Candidatos e candidatas à Presidente da República, Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Governos Estaduais aparecerão. Uns serão, tal como a Espanha, campeões pelo voto e outros, tal como o selecionado nacional, não alcançarão o intento pretendido.

Paul, o polvo, poderá ajudar alguns candidatos com os seus prognósticos, mas o povo brasileiro deve compreender, que, apesar de alguns erros de arbitragem, sinalizaremos com o nosso voto a direção que queremos para o nosso país. Nós, de torcedores passamos a eleitores por um Brasil sempre campeão na educação, saúde, habitação, segurança entre outros, todos os dias da nossa existência, e não apenas de quatro em quatro anos, pois a vida não é feita de Copa do Mundo.

Devemos exigir dos eleitos o empenho e as ações que faltaram em Dunga e precisamos ser tão críticos e participativos enquanto cidadãos quanto fomos no papel de torcedores. Da nossa escalação para os espaços institucionais da política nacional dependerá o sucesso do nosso país. Ou o seu fracasso.

Outras mediações também aparecem, pois se as eleições são importantes, elas não são determinantes. Para tanto, precisamos deixar de ser espectadores do plim-plim platinado e nos tornarmos protagonistas da trama dentro e fora das quatro linhas que circunscrevem o gramado da vida, entrando no campo da conscientização política, da organização e lutas populares.

Torcedores de todo o país, uni-vos.

sábado, 3 de julho de 2010

Futebol, um jogo revolucionário

Nossa postagem desta semana é do jornalista baiano Albenísio Fonseca, Diretor Editorial do Jornal da Península. Albenísio já atuou como revisor, repórter, editor nos jornais A Tarde, Tribuna da Bahia, Correio da Bahia, Jornal da Bahia e Bahia Hoje, além de lançar as publicações "Revista do Carnaval", "Stylo & Moda" e free-lancers para Folha de S. Paulo e assessorias de comunicação em empresas, prefeituras e mandatos de parlamentares. O jornalista mantém um blog onde publica várias de suas ideias. O jornalista autorizou a publicação do texto abaixo que foi publicado no seu blog no dia 07 de junho, data em que ainda acalentávamos a esperança do selecionado canarinho ganhar o hexa, embora várias críticas confirmadas no jogo mais duro em que a seleção brasileira enfrentou, contra a Holanda, estivessem sendo dirigidas ao Dunga. Vamos ao texto.
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Futebol, um jogo revolucionário

Albenísio Fonseca

O único delírio coletivo permitido no Brasil, além do Carnaval, é a conquista da Copa do Mundo. Espetáculo coletivo, o futebol torna-se ritualístico na medida em que identifica os espectadores com o drama que se desenrola em campo. Os jogadores são como personagens de teatro com os quais nos identificamos numa relação ritualística (espetacular) em que o campo se converte num grande teatro de arena. Visto de forma simbólica, emocional e arquetípica, o futebol é uma confrontação de opostos durante a qual inúmeras emoções são elaboradas, soltas, exercidas e domesticadas.

As origens do futebol perdem-se nos subterrâneos da História. Iniciado na Inglaterra, provavelmente a partir do harpastum, jogo de bola com as mãos trazido pelos romanos da Grécia, há também a hipótese de que tenha-se originado do costume primitivo de chutar a cabeça dos inimigos para comemorar vitórias. Existe ainda a informação do futebol jogado nas terças-feiras de Carnaval em Chester, cidade inglesa fundada pelos romanos.

É possível relacionar pelo menos quatro razões para afirmar o futebol como um jogo revolucionário. Por sua associação ao Carnaval, festa visceralmente ligada à liberação das emoções e instintos. Por ser jogado com os pés, numa contrapartida para com as atividades sociais organizadas e praticadas sob o controle das mãos. Por ser um esporte coletivo e, desse modo, contrariar os esportes individualistas das elites. E, ainda, por dirigir as emoções do povo para uma disputa que acaba bem, ao contrário dos torneios que terminavam com a morte de um dos contendores.

O futebol registra episódios surpreendentes, como o de uma guerra entre a Inglaterra e a Escócia, em 1297, acabar desmoralizada porque os soldados de Lancashire, tradicionais inimigos dos escoceses, desobedeceram a seus comandantes e preferirem disputar sua rivalidade no futebol, ao invés de guerrear.

A face revolucionária do futebol diante do padrão patriarcal acabou por gerar sua repressão legal na Inglaterra, por razões militares de Estado, a partir do século 14, e motivo de ampla legislação proibitiva até o século 16. Mas o esporte floresceria e se difundiria por todas as culturas pelas mais diversas vias. Ao nos identificarmos com os jogadores nesse ritual dramático, sentimos que eles realizam por nós proezas físicas e psíquicas, que nos gratificam profundamente. Se as proezas físicas são maravilhosas de ver, as psíquicas são partilhadas e usufruídas. A imprevisibilidade do jogo faz com que toda sorte de emoções surja entre os heróis e o gol (jogadores de futebol são heróis do povo e o goleador o maior deles).

A ação dramática transcorrida nos 90 minutos é um símbolo transfigurado do processo de luta pela vida para atingir nossas metas. Como o gol adversário (a meta) é defendido por um time igual ao nosso, para atingi-lo temos que nos defrontar com emoções intensas e atravessá-las pelo drible, pelo controle da bola, intuição, planejamento, ação conjunta, malícia, velocidade, tudo enfim que há de humano contra tudo humanamente igual.

O futebol lida com emoções da maior importância, como a agressividade, a competição, amizade, rivalidade, inveja, orgulho, depressão, humilhação, fingimento e traição, entre tantos outros. O exercício da ética no futebol é tão evoluído que trouxe até mesmo a codificação de não se marcar uma falta que beneficie o infrator. Também a regra do impedimento, que proíbe receber por trás da defesa, delimitando física, espacial e dramaticamente situações de lealdade no confronto direto, e de traição no atacar por trás.

As emoções elaboradas pelos jogadores correspondem, simultaneamente, às vividas pelos torcedores. Um time que se lança ao ataque ativa a coragem e a ambição do torcedor. As tentativas de invasão de área e realização do gol podem, de logo, ser invertidas num contra-ataque. No mais, acompanhemos os jogos dessa 19ª Copa do Mundo, na África do Sul, com um esforço de consciência para compreender seus símbolos e exercê-los, não só no âmbito das suas arenas, mas em todas as instâncias da política e da cultura.