domingo, 29 de novembro de 2009

Atenção senhores passageiros...

O discurso oficial promovido pelo Ministério dos Esportes é sempre conjuntural. De acordo com a direção do vento, para onde apontar a biruta esportiva, as aeronaves salvacionistas são arremetidas ao céu pretensamente de brigadeiro e a qualquer sinal de pane no sistema, liga-se o piloto automático em busca de um “aeroporto” seguro, quase sempre o quartel de Abrantes, onde tudo fica como antes.

A culpa? Melhor apontar para o lado mais fraco dessa relação. Deixemos com a escola precarizada e com o professor de educação física. São deles todas as culpas possíveis e imagináveis da falência do sistema esportivo. Afinal de contas, professor não é piloto e o espaço escolar não é pista de vôo. Fica então mais fácil de explicar o fracasso.

Então de novo, mais uma vez e novamente, vamos fazer o discurso de que é preciso massificar o esporte, é preciso esporte na escola, é preciso professores com melhores formações, é preciso melhorar a estrutura da escola, é preciso melhorar os equipamentos, os materiais para dá aulas, é preciso, é preciso, é preciso...

Com raríssimas exceções, esse discurso se apresenta após os fracassos esportivos em grandes eventos. Após as Olimpíadas, por exemplo, os resultados ínfimos dos aguerridos atletas brasileiro, são computados, e os resultados, insatisfatórios, são imputados às instituições, deixando de lado, o necessário planejamento e gestão estrutural do esporte nacional, isolando esses elementos, retirando-os do debate, como se os mesmos não fizessem parte da dinâmica dos próprios organismos institucionais em que se imputam às críticas.

Assim como a elite brasileira não tem um projeto de nação, a elite que manda e desmanda nas federações e confederações esportivas onde se perpetuam nas diferentes gestões “monárquicas” também não tem um projeto para o esporte. O pragmatismo, o imediatismo, o aqui e agora são as tônicas das caricaturas de projetos esportivos brasileiros. Quando políticas públicas de incentivos são pensadas, a base é esquecida, e engana-se o povo com os jogos de linguagens utilizados nos projetos.

Pensemos no tal do faz-atleta. Lindo nome. A primeira vista e aos ouvidos dos desavisados, era um projeto para...fazer atletas. Mas o mesmo beneficiava abundantemente, os atletas já feitos. Ironia? Não, apenas a expressão concreta da forma como os gestores atuais pensam a dinâmica do esporte.

Mas como ser diferente se são as mesmas pessoas que comandam o aeroporto à anos? As aeronaves são deles, os pilotos idem, as empresas que transportam os atletas passageiros também, as fardas dos pilotos, toda a estrutura está fechada hermeticamente e no seu interior se desenvolve uma dinâmica extritamente patrimonialista. É o esporte sendo apropriado privadamente por um grupo de pessoas que pensam absolutamente tudo em função dos seus interesses, que são os interesses voltados para a dimensão de um determinado modelo esportivo pensado por eles mesmos e assim, entramos em uma verdadeira roda viva, em uma circularidade inoperante, atrasada, conservadora, que promove sempre o retorno ao mesmo aeroporto de partida.

Não sei por que, me lembrei de um certo dono de aeroporto que disse que sairia da direção do mesmo assim que o avião que partia para a Itália, retornasse. Independentemente das condições do vôo, ele sairia. Estava determinado. Mas o vôo foi fantástico, o avião voltou dando quatro voltas ao mundo, uma arremetida e aterrissagem de fazer inveja e com várias manobras antes, durante e depois do vôo, o dono do aeroporto resolveu continuar. Assim, sem mais, nem menos, ele esqueceu do que tinha dito e...ficou. Afinal de contas, se é para o bem de todos e felicidade geral do esporte, diga ao povo que fico. E tá aí até hoje, sendo festejado até por quem deveria vigiá-lo.

Lembrei-me de um outro. É demais. Me diga leitor, se você tivesse que prestar contas de trinta milhões de reais, como e onde você estaria? Eu estaria preso, com certeza. Mas esse dono do aeroporto tá em todos os canais de televisão dando entrevista, contando história da carochinha, procurando nos enganar mesmo quando a história já mostrou e comprovou que o contador da história sobre chapeuzinho vermelho é o próprio lobo mal. Este senhor recentemente esteve pulando de alegrias junto com o nosso presidente e a maioria do povo brasileiro pela conquista de novos vôos no céu de brigadeiro.

Resta agora ampliar o aeroporto que parecia estar pronto, comprar novos aviões, controlar a velocidade do vento e fundamentalmente olhar para a biruta e ver para onde a mesma está apontando para que ao menos a decolagem seja perfeita. Quanto a aterrissagem, bem, dependendo de como for, a gente deixa a pista bastante molhada, tira o freio do avião e no final das contas a gente culpa o piloto, pois como ele vai está morto mesmo... depois é só fazer o aeroporto funcionar de novo.

Mas antes, precisamos exigir do governo uma pista nova, pois esta deu no que deu.

5 comentários:

Miguel disse...

Essa postagem me lembrou um personagem humorístico, o galeão cumbica, da escolinha do professor raimundo. "No ar...". Um verdadeiro circo. Penso que não tem jeito. Ao menos com essas figuras que como a própria postagem diz, se perpetuam no poder.

Carlos Almeida disse...

"Resta agora ampliar o aeroporto que parecia estar pronto, comprar novos aviões, controlar a velocidade do vento e fundamentalmente olhar para a biruta e ver para onde a mesma está apontando para que ao menos a decolagem seja perfeita"

Cabe salientar (e isso que me intriga!) que os que estão no poder(o piloto) e perpetuam esta ordem foram eleitos em primeiro e segundo mandato por voto direto, pelo voto popular, direto e democrático, ao que parece, os verdadeiros birutas, o cidadão brasileiro.

Ou não?

Carlos Almeida disse...

Alguém tem dúvida que os aviões novos a serem comprados vão ser franceses?

Nada muda, se você não muda!

Robson disse...

Miguel, o personagem galeão cumbica não deve ser lembrado, em memória da sua pessoa quando o assunto do qual se trata envolve falcatrua de diferentes setores do governo. Um grande humorista que via no humor uma possibilidade de atenuar as mazelas dos governantes deste pais que como bem disse Carlos, foram eleitor por nós.

Anônimo disse...

Estou trabalhando no ministério do esporte, iniciei a pouco tempo e se já tenho uma certeza é que os mesmos são sempre os beneficiados... É um absurdo e o pior é que manda quem realmente têm mais poder... as confederações fazem o que querem