domingo, 26 de julho de 2009

Deus escreve certo nas mentes tortas


As prioridades das ações divinas são uma incógnita só mesmo explicáveis em frases autojustificadoras do tipo "Deus escreve certo por linhas tortas". O que significa isso? Significa que a "inteligência dos homens é loucura para Deus". Em síntese: não queira interpretar racionalmente as ações divinas, pois a fé não se explica pela razão. São coisas incompatíveis.

Embora assim seja, alguns atos de fé violentam profundamente as consciências lúcidas, menos afetadas pelas questões religiosas. Não que uma coisa seja necessariamente antagônica a outra. Existe lucidez nas questões do campo religioso, mas em igual ou maior medida, existe também muitas fantasias, testemunhos que beiram ao desdém do grau de desenvolvimento alcançado pela humanidade.

Um desses testemunhos que zomba da nossa consciência (ao menos da minha) foi dado pela senhora Carol, esposa de Kaká, o atleta de cristo mais bem sucedido até o momento. Disse a futura pastora da Igreja Renascer em testemunho televisionado em um desses infindáveis programas religiosos o seguinte: "em tempos de crise, quem tem dinheiro? Ninguém. Mas Deus queimou as pestanas, descolou alguns e madou justamente para o Real Madrid, para que o time pudesse contratar Kaká".

Esse testemunho antes de afetar os meus neurônios, embotar a minha consciência, me faz questionar a hierarquia das coisas que vem do céu e as prioridades do nosso (deles) senhor jesus cristo. Quantas crianças em todo o quadrante do mundo não gostariam de ter esse tipo de atenção de deus? Mas elas não são Kaká, não têm condições de doar mais de 2 milhões de reais por ano a Igreja Renascer do casal Hernandes, que já possui um patrimônio extremamente polpudo, estimado em mais de 130 milhões de reais.

O casal se encontra atualmente preso nos Estado Unidos, acusados de desviar dinheiro dos fieis, lavar dinheiro sujo e "obtenção de atividades ilegais, seja por meio do engano da fé de outros, seja por uma série de fraudes". Mas essas acusações devem ser obra de satã, que trabalha de forma incansável, colocando à prova, tal como fez com Jó, a fé das pessoas crentes e tementes a deus.

Talvez aqui finalmente a fé e a razão deixem de ser incompatíveis e se unifiquem na forma mercadoria. Fé e razão, cada vez mais instrumentalizadas, se encontram para transformar as consciências mais desavisadas em suporte material de argumentos fantasiosos, que beira ao ridículo, tal como esse da senhora Carol.

Este ato é tão violento, quanto as violências físicas sofridas pelos torcedores de futebol no Brasil, que nos últimos dez anos, saiu do terceiro para o primeiro lugar em número de óbitos referentes a confrontos entre torcedores, um fenômeno que vem se ampliando a cada ano que passa.

Mas isso é assunto para uma outra postagem. Por enquanto, fica aqui o meu protesto contra o testemunho cínico da futura pastora da sucursal da Igreja renascer na Espanha, a senhora Caroline Celico, esposa do jogador Kaká.

Só mesmo mentes tortas para poder acreditar em tamanha sandice, professada por alguém que pode muito bem ser taxada de criminosa, pois embotar consciências é, também, um ato criminoso tão vil, quanto ceifar vidas de simples torcedores.

domingo, 19 de julho de 2009

Esporte e política: uma mera coincidência?


Existem pessoas que acreditam em papai noel. Outras que creem em duendes. Algumas juram de pés juntos que já viram gnomos e até conversaram com eles. Existem àqueles que acreditam em um deus supremo, criador de tudo e de todos e a julgar pelas posturas de agradecimentos, reside lá no alto. Pelo menos para a maioria dos atletas brasileiros. É um tal de apontar para cima, olhar para cima que... deus nos acuda!!!

Eu não sei se isso acontece em outros países do mundo. Desconheço. E também não sei se é com tanta frequência e ênfase como ocorre aqui no Brasil. Pelo menos no meu bába de sábado isso não ocorre. Ainda, é prudente dizer, como é prudente também registrar na condição de ex-católico, ex-batista, ex-espírita, ex-torcedor do baêa, os meus maiores respeitos a todos e todas que da forma como bem entendem professam as suas crenças.

Mas deixemos os crentes dos deuses da chuva, do sol, do fogo, da terra, da caça, do trovão, do futebol, deixemos em paz a deusa da fertilidadede, deixemos de lado todos os deuses e deusas, pois quero me dirigir a um outro grupo de crentes. Àqueles que acreditam que esporte não tem nada a ver com política. Que o esporte é um fenômeno isento dos interesses políticos e que a força que o move é pura paixão, muito amor pela camisa, pela bandeira e símbolos do clube.

Quando esporte passa a se misturar com política, eis, para alguns incautos, o seu fim, a sua derrocada, o trágico destino do seu mais alto e nobre lema, o seu ideal cavaleiresco: o fair play.

Para estes, a notícia de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) doou para a campanha de Roseana Sarney ao governo do Estado do Maranhão em 2006 a quantia de 100 mil reais é uma mera casualidade. Devem achar até uma mera coincidência o fato do seu irmão, Fernando Sarney, ser um dos diretores da CBF.

Essa notícia teve pouca repercussão no jornalismo esportivo, pois esse, com honrosas e pouquíssimas exceções, deve achar que esta questão é um problema econômico ou da esfera política. Nesse sentido, melhor silenciar-se e tratar de falar que bebeto balança bebê está fazendo curso para técnico ou que Mancini é o ex-técnico do Santos que agora será dirigido pelo Vanderlei Luxemburgo.

Sabe o Kleber, atacante do cruzeiro? Este abriu mão da lua de mel e é a principal preocupação do Corinthians, eterno timão, nesse domingo.

São dessas questões que o jornalismo esportivo deve tratar. Para outros assuntos mais chatos e enfadonhos, como economia e política, existem outras seções no jornal para os interessados. Não é essa a lógica da divisão social do trabalho? Cada macaco no seu galho.

Mas para quem pensa que só Roseana Sarney, por mera coincidência, recebeu dinheiro da CBF, se engana redondamente. Em 2002, fizeram parte do time dois "jogadores" que, por mera coincidência, jogam no esporte clube do PMDB, que também é, por coincidência, o mesmo time da Roseana Sarney. São eles o Renan Calheiros, das alagoas e Gilvam Borges, do Amapá. Sarneyzistas desde criancinhas.

Para os de memória curta é bom lembrar a CPI da Nike. Inicialmente ridicularizada por toda a "bancada da bola", para quem não resta dúvida da relação entre esporte e política, foi instalada em 17 de outubro do ano 2000. Foram dezenove meses de luta protagonizada pelo Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que conseguiu, nada mais, nada menos do que 206 assinaturas de 171 necessárias.

Uma verdadeira goleada!!!

Conseguiu também minar a figura do todo poderoso Ricardo Teixeira, ao ponto do mesmo anunciar em alto e bom som, pelo desgaste sofrido pela CPI, que a Copa de 2002 seria a sua última enquanto presidente da CBF.

Mas, como deus é brasileiro, e tem como companhia papai noel, duendes, gnomos entre outros, deu uma forcinha para a seleção brasileira conquistar a Copa da Alemanha em 2002 e o todo poderoso "Ricaço" Teixeira, tal qual Lázaro, amissíssimo de jesus, ressuscitou dos mortos.

Um momento...terá sido mera coincidência a conquista da Copa do Mundo de 2002? Meus deuses!!!

domingo, 12 de julho de 2009

I belong to Jesus



A crença em seres metafísicos sempre acompanhou a existência humana. Junto com a consciência dos fenômenos que a rodeava vinha também a necessidade de explicá-los. Surgem os mitos, primeiras falações explicativas "(...) pertencente à tradição cultural de um povo que explica, mediante o apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo, bem como o funcionamento da natureza e o surgimento dos valores básicos da sociedade". (BETO & VALDECIR, 2007, p. 21).

Com o tempo, conjuntamente com o desenvolvimento das ciências e a evolução da humanidade, o pensamento mítico foi perdendo espaço sem, no entanto, deixar de influenciar corações e mentes através de outras expressões do conhecimento humano como, por exemplo, o conhecimento da fé.

A fé, diferente do mito, explica-se por si mesma. Aliás, ela mesma não exige explicação e não existe para explicar algo. Simplesmente existe. Ponto final.

Em nome da fé, vários acontecimentos se justificam por mais discrepantes que sejam. De guerras à gols nos gramados do mundo, um certo senhor de todos os homens, criador do universo e de tudo o que nele há, é evocado. Seu nome? Jesus. O décimo segundo jogador que sendo o último, é o primeiro, pois disso é feito o mistério da fé.

Na conquista da Copa das Confederações no último dia 28 de junho do corrente ano o que se viu foi um fervor religioso jamais visto no conjunto de jogadores que já passaram pela seleção brasileira, que deveria, aos olhos deste humilde telespectador formado nas tradições católicas, embora não praticante e até cétido da existência deste tal décimo segundo jogador, se reservar a comemorar a conquista de um título nos modelos tradicionais, reservando para o plano privado, suas crenças particulares.

Em um país com tradições religiosas diversas, uma seleção brasileira não deveria expressar nenhuma crença em particular, pois a mesma se presta a representar uma nação e não um culto religioso desta ou daquela coloração.

Para Ricardo Acampora, "(...) surpreende o fato de atletas usarem a combinação entre um veículo de grande penetração como a televisão e a enorme capacidade de marketing da seleção brasileira, para divulgar mensagens ligadas a crenças, seitas ou religiões. Se arriscam a serem confundidos com emissários de pregadores dispostos a aumentar o número de ovelhas de seus rebanhos às custas do escrete canarinho, como emissários evangélicos em missão".(BLOG do Juca)

Tudo isso sob a barba condescendente da FIFA que em suas normas proibi tais manifestações. Será que ela seria tão condescendente se estas fossem em pró de um pensamento político de contestação da ordem, tal como víamos, em tempos passados, pelos Black Power? Duvido muito. Chego até a pensar que a proibição de qualquer manifestação política ou religiosa promovida pela FIFA nas suas determinações normativas estejam muito mais para as manifestações políticas do que às religiosas.

Os dirigentes esportivos ficaram preocupados com as manifestações do brasileiros após o apito final do jogo contra os Estados Unidos e pediram punição por parte da FIFA ao selecionado brasileiro. "Com centenas de jogadores africanos, vários países europeus temem que a falta de uma punição por parte da Fifa abra caminho para extremismos religiosos e que o comportamento dos brasileiros seja repetido por muçulmanos que estão em vários clubes europeus hoje" (BLOG DO JUCA)

Enquanto isso, o deus da seleção brasileira segue diferente dos deuses das seleções de outros países no mundo e deve jogar um bolão, pois já permitiu que a seleção canarinho conquistasse três títulos da Copa das Confederações e cinco mundiais. Ele não deve gostar muito é de Olimpíadas. Ou então tem suas razões para não deixar que a gente conquiste este título pois, como é o único que falta, podemos nos exceder nas soberbas entre os simples mortais.

É uma pena que esse deus só goste de futebol. Deveria gostar também das crianças que passam fome, dos trabalhadores que não têm emprego. Deveria se preocupar mais com o Haiti, onde se produz biscoito com barro e manteiga. Deveria olhar mais para o Continente Africano, para o norte e nordeste brasileiro. Deveria ser mais plural e menos elitista.

Mas, como todos sabemos, ele escreve certo por linhas tortas. Inteligentemente, nos deixou o chamado livre arbítrio, que tudo explica e tudo responde.

É missa ou é jogo? É futebol ou é culto religioso?

I dont belong to Jesus!!!

domingo, 5 de julho de 2009

Sentimento de nação ou nacionalismo festivo?


Alguns comentários a respeito da última postagem - Seleção brasileira? - me fez perceber que não fui muito claro na minha exposição. Na verdade, quando sentei para postar o artigo tinha em mente uma perspectiva de desenvolver um raciocínio que buscasse enfatizar o sentimento de nação (ou a falta deste) que carregou (ou carrega) historicamente a seleção de futebol de cada país, ou a seleção do beisebol, do basquetebol, do hóquei enfim, a seleção do esporte mais representativo de cada nação.
Penso que isso se deu em função do citado comentário do Platini a respeito dos jogadores dos times locais que não tinham a mesma nacionalidade de origem do time em que jogavam e que com isso haveria - na ótica do Platini - uma perda da identidade dos clubes e dos países. Automaticamente, alguns comentadores da postagem identificaram uma defesa minha de que jogadores de estados nacionais em comum, jogando em outros estados da mesma federação, seria uma excrescência.
O colega e professor Fábio Nunes, da Universidade do Estado da Bahia (campus de Jacobina), assim comentou: "É simplesmente uma questão espacial no sentido geográfico do termo. Ou então chegará um dia que no campeonato "paulista", mas que possui um time com Junior Bahiano como Zagueiro, Fabio Baiano na lateral direita, Junior (aquele que jogou no palmeiras) na lateral esqueda, Vampeta- meia, e Edison, Bebeto e Alex Alves ( "in-memoriam") no ataque diremos que está acontecendo ali uma partida do Campeonato Bahiano".
Se em alguma linha da postagem anterior, defendir o que está expresso nas linhas acima, não foi essa a intenção. Por via das dúvidas retomo aqui a idéia de que a Seleção Brasileira, por ter no seu planteu uma enorme maioria de jogadores brasileiros que jogam no exterior, não cria mais uma identificação, como outrora, entre torcedor e nação. Esses estão muito mais compelidos a torcer pela seleção brasileira muito mais pela festa protagonizada pelo jogo em si do que pelo sentimento de amor, de paixão pelo seu país.
Não estamos de forma alguma fazendo um juízo de valor sobre a situação. Estamos entendendo esta como um movimento histórico que acompanha o próprio processo de globalização. "(...) o documento crucial de identidade do século XXI não é a certidão de nascimento do Estado nacional, e sim o documento internacional de identidade - o passaporte" (HOBSBAWN, 2007, P. 91)
Um dado importante, e que passou desapercebido por alguns e que reforça o argumento sobre a perda de identidade nacional em relação a seleção brasileira foi a recepção fria que teve a seleção no seu desembarque, principalmente nos aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro, tradicionais redutos de festas da seleção brasileira quando esta chega vitoriosa, evidentemente.
Outro dado relevante diz respeito ao número do IBOPE nas partidas televisionadas da seleção brasileira pela maior rede de televisão nacional. A disputa da final da Copa Kia do Brasil, entre Corinthians e Internacional, gerou para a Globo 39,6 de Ibope. Já a final da Copa das Confederações, entre Brasil e Estados Unidos, rendeu apenas 29 pontos. A final paulista entre Santos e Corinthians, rendeu 35 pontos no Ibope para a Globo.
Para Hobsbawn (2007, pág. 92), o futebol é uma "atividade pública" que combina, dialeticamente, três elementos da sociabilidade contemporânea: a globalização, a identidade nacional e a xenofobia. "Graças à televisão global, esse esporte universalmente popular transformou-se em um complexo industrial capitalista de categoria mundial (...)".
Ainda em relação a visão do historiador inglês, o futebol"(...) tem sido o catalisador de duas formas de identificação grupal: a local (com o clube) e a nacional (com a seleção nacional, composta com os jogadores dos clubes). No passado, elas eram complementares, mas a transformação do futebol em um negócio mundial e sobretudo o surgimento extraordinariamente rápido de um mercado global de jogadores (...) criaram uma crescente incompatibilidade entre os interesses empresariais, políticos e econômicos, nacionais e globalziados, e o sentimento popular". (pág. 93)
Nesse sentido, "(...) a lógica transnacional da empresa de negócios entrou em conflito com o futebol como expressão de identidade nacional (...)" (pág. 94)
Não obstante, a enquete que apresentamos durante a semana aponta um dado curioso. Dos dezessete votos computados, nenhum votou a favor de uma seleção brasileira composta apenas com jogadores estrangeiros, característica do nosso selecionado titular atualmente. Sete votos apontaram para um selecionado formado apenas com jogadores nacionais, dois com um misto de nacional e estrangeiro com um percentual maior para os nacionais e oito votos para uma seleção formada de nacionais e estrangeiros, independente de percentual.
Mas como essas configurações não dependem da nossa vontade e nem tampouco dizem respeito a "uma questão espacial no sentido geográfico do termo" mas sim à lógica metabólica do capital que tudo transforma em mercadoria, a crise financeira até forçou alguns craques como Ronaldo e Adriano a voltarem para o seu país de origem, sendo devidamente repatriados.
Mas os centros financeiros do futebol transnacional continuarão a levar os nossos talentos para fora, desde que os mesmos dêem lucros e dividendos, pois essa coisa de nacionalismo só diz respeito aos "úitlmos românticos".
Depois, bem, depois essas mercadorias chamadas jogadores de futebol acabam voltando para o seu país de origem com saudades da favela e do feijão com arroz da mamãe.
Você que coisa mais nacional do que favela e feijão com arroz? Viva a festa!!!