domingo, 14 de junho de 2009

A Copa do Metrô



O governo do Estado tem até o dia 31 de agosto para decidir se a reforma da Fonte Nova será por concessão, parceria público privada ou recurso público. Até o dia 31 de dezembro o governo deverá publicar o resultado final do processo licitatório e o dia 28 de fevereiro do ano que vem será o prazo final para apresentação do cronograma de obras para a Copa 2014. Será também no primeiro semestre do ano de 2010 que devem ser iniciadas as obras.

Todas essas datas foram definidas na terça-feira (09/06/09), no Rio de Janeiro, onde foi realizado o seminário das cidades-sede da Copa, pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, o senhor Ricardo Teixeira. Na oportunidade, o presidente da CBF também alertou sobre a possibilidade – caso as cidades escolhidas no último dia 31 não cumpram os prazos – de perda do direito destas de sediar jogos da Copa 2014.

Outras questões também foram abordadas, dentre estas a questão de infra-estrutura, de sustentabilidade econômica e de mobilidade urbana. É neste item que a porca vem torcendo o rabo devido ao imbróglio que envolve a obra do metrô. Tido como fundamental para desafogar o trânsito de Salvador, que conta hoje com mais de 700 mil carros e 2,5 mil ônibus circulando diariamente, a obra sofrerá, esta semana, nova fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) que investiga indícios de superfaturamento.

Quando em dezembro de 1999 foi iniciada a obra do metrô, esta valia R$ 325 milhões de reais para a construção de dois trechos (Lapa-Acesso Norte e Acesso Norte-Pirajá). O prazo para a finalização da obra era de 40 meses. Passados 114 meses e com o custo alterado para R$ 800 milhões de reais apenas para a conclusão do primeiro trecho (Lapa-Acesso Norte) que se encontra com 85% concluído, o metrô é, de longe, uma enorme pedra no sapato dos governos, municipal, estadual e federal.

Esta pedra ultrapassa o fator mobilidade urbana. Ela é a materialidade da forma como as empresas agem em relação às obras públicas e como agem os políticos, que delas dependem para suas campanhas políticas. Notem que durante esse tempo em que estamos esperando o metrô, até onde vai a minha memória, dois grandes shoppings já foram construídos e outros foram reformados, construindo-se um shopping dentro de outro shopping.

E o descaso, o desrespeito e a desfaçatez não é só com obra grande não. No bairro do Nordeste de Amaralina, existe uma construção abandonada de uma quadra esportiva que vem se arrastando há quatro anos. Iniciada em 2005, foi paralisada no mesmo ano e apesar do prefeito já ter recebido R$ 315 mil reais do Ministério do Esporte, R$ 300 mil dos recursos do Orçamento Geral da União e em 2007 mais R$ 300 mil para aquisição de material e equipamentos a quadra ainda não foi construída.

Quem sabe agora, na esteira das necessidades geradas pela Copa de 2014, imbuídos do espírito nacionalista, no afã ufanista de que "este é um país que vai pra frente", o pessoal do Nordeste de Amaralina (complexo popular que abrange o Vale das Pedrinhas, a Chapada do Rio Vermelho e o Santa Cruz), tenha, enfim, a sua quadra esportiva e o povo de Salvador o seu metrô?

Pois, sim!!!


9 comentários:

Manoel Gomes disse...

Welington, fico pensado no que faremos, sabemos de tudo isso, desvelamos, mas a sensação de impotência permanece, quando será que daremos um basta a tudo? Temo que sejamos meras ovelhas...

Manoel Gomes disse...

Ah, além do seu, belo texto o do professor Elson Moura Dias...

Elson Moura disse...

Grande Wellington!!
Antes de mais nada, obrigado Manoel, tive um bom professor!
Em relação a esta última postagem, me lembrei de uma conversa que tive com uma professora do Curso de Geografia da UEFS; ela se aproxima da discussão sobre urbanismo etc.
Lembro que comentei com ela sobre a situação do Metrô. Ela me perguntou se eu achava que uma grande montadora de carro (FORD), que tem pretensões em vendas para um bom tempo, ia permitir que um metrô fosse construído em nome da melhoria do trânsito; o que de certa forma poderia reduzir a margem de vendas da montadora.
Mais uma reflexão a se juntar a estas possíveis denúncias de super faturamento. Parece teoria da conspiração mais não é. Em se tratando da sociedade que tem como centro o lucro, tudo é possível.
E cabe a pergunta: é preciso eventos de grande porte para que aquilo que é nosso direito seja concretizado?
Existem estratégias Manoel; penso que cada um, em sua açao específica, deve procurar sempre aliar a mesma a uma ação mais geral, que vise a ruptura com o contexto maior. Este blog, por exemplo, é uma forma de ação: a teoria, a reflexão etc, por si só, já é uma ação (mesmo os funcionalistas dizendo que não). Cabe agora outros setores se aliarem a esta.
FORÇA NA LUTA QUE A LUTA É PARA VENCER (MNCR)!
Elson Moura
UEFS
MNCR-Feira de Santana
LEPEL-UEFS

Welington disse...

O que fazer? Eis a pergunta lançada por Lênin, título de um dos seus livros e que vem reverberando através dos tempos. O que fazer? Como fazer? Pergunta o meu nobre amigo e irmão Manoel: o que faremos? Respondo. Já estamos fazendo. A luta de classes é o motor da história e ela se processa por diferentes vias. A infovia é uma delas. Mas se faltar ação concreta, se faltar a rua, a inserção nos movimentos sociais reais, não virtuais, nada será concretamente mudado a não ser por dentro da virtualidade, da aparência, ficando no plano das idéias.
As classes se movem. No ano de 1990 a AL-Qaeda colocou no ar o seu primeiro site de internet. Objetivo? Dar passo largo para arregimentar, doutrinar e propagar a jihad. Hoje já são mais de 7 mil sites jihadistas. Isso fez com que o governo do EUA se mexesse. A china há muito tempo já promove treinamentos de soldados específicos para detectar atentados virtuais. É a chamada guerra virtual que tem repercussão no mundo real. A petrobrás inaugurou o seu blog para poder disseminar contra-informações que protejam seus negócios de informações plantadas pela televisão, por exemplo. O MST já vem usando também dos expedientes da infovia. Muito movimentos na América Latina vem usando este espaço para propagar suas ideologias, suas visões de mundo, informes e acontecimentos.
Talvez a pergunta seja outra. O que não fazer? Nos ensinou, também aqui neste espaço, um outro amigo e irmão, professor Claúdio Lira que não devemos separar os nossos objetivos imediatos do nosso projeto histórico. Não posso ter a ilusão de que esse espaço mudará as políticas de governo sobre o esporte e lazer, pois estas se inserem na lógica do metabolismo do capital. Queiramos ou não. Será ocupando as brechas desse metabolismo, na luta diária nos diversos espaços (virtuais e reais) que desenvolveremos como possibilidade, outra sociedade através da prática, de ações concretas que contrariem o sistema do capital. As condições para o processo revolucionário estão dadas e ele vem se dando por saltos, recuos, capitulações, avanços enfim, com toda a complexidade e contradição do movimento do real. Quando, em 1917, os trabalhadores foram às ruas protestar contra a fome, ninguém sabia que ali, naquele ato, a fagulha da revolução russa seria acesa, pois a mesma já vinha sendo desenvolvida desde o "Domingo Sangrento" de 1905 e outros acontecimentos históricos anteriores.
O que fazer? Resposta direta para prosseguirmos com o debate: agir como se estivéssemos vivendo uma sociedade socialista. Materializando o que nos ensinou a história desta formação social sobre o estudo, sobre a relação com o outro, sobre a ciência, sobre ser professor, etc, etc, evitando seus excessos, seus erros e equívocos. Reconhecendo que só poderemos vivê-la plenamente, no solo concretamente existente da sociedade socialista.

Manoel Gomes disse...

Parabéns, professor, bela réplica...

Adonis Cairo disse...

enquanto nós discutimos o metrô, eles discutem o que fazer com o dinheiro que está sobrando a partir do metrô...

Adonis Cairo disse...

Todos conhecem minha admiração pelo prof. Welington. contudo, tenho dificuldade de partilhar seu otimismo metafísico em relação às possibilidades do modelo socialista. Não que compactue com o projeto capitalista (vade retro!). O que me intriga é a coerência do projeto hegemônico em contraste com a incoerência dos prestidigitadores do projeto assim chamado socialista. Quando li 1984 e quando li A revolução dos bichos, o que mais me chamou a atenção foi saber que o autor, de pseudônimo George Orwell, lutara pela instalação de regimes socialistas na Europa... e se decepcionara com o que vira instalado, apagadas as chamas da revolução.
Talvez devamos ter utopias, elas que movem o homem em direção ao futuro. Mas, talvez, a utopia a alimentar seja outra. Não, não tenho uma utopia para propor em lugar dessa cuja autenticidade esquivo-me a assumir como crível.Assumo: atiro pedras a esmo. Admito: uma poderá atingir-me. Frei Beto disse, certa volta: "o capitalismo dá o sonho e tira o pão; o socialismo dá o pão e tira o sonho". Há que criticar. José Regio, poeta português, em seu "Cântico negro", conclui: não sei por onde vou, não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí!.
É uma provocação, caro mestre Welington, já que o recesso não me permitirá o prazer de suas visitas matinais às quartas.
Saúdo-vos, de joelhos

Welington Silva disse...

Caro mestre Adônis. O meu otimismo crítico tem relação com a dinâmica do real, portanto, nada de metafísico. Parto do real concreto, das suas contradições para pensar e agir, dentro das possibilidades e limites do sistema metabólico do capital, na construção de um outro projeto histórico: o socialismo. Um colega do Frei Beto, um também teólogo da libertação, Leonardo Boff, uma vez disse que se a nova matriz energética descoberta fosse submetida a um nível de produção e consumo que temos hoje, necessitaríamos de 5 novos planetas terra. Não temos 5. Temos apenas este. A partir deste dado concreto, real, insisto, não metafísico, o que faremos? Ele nos dar um parâmetro de análise. Não é só o que falou o Boff, mas o que ele falou cotejado com os dados da história que nos leva a assumir um compromisso histórico: desenvolver um outro projeto de sociabilidade em contraposição a este, que já esgotou suas possibilidades emancipatórias e se continuar com a mesma dinâmica, destruirar a própria humanidade. Isso coloca para todos nós o desafio de manter a vida em sua plenitude, nem dando o sonho e tirando o pão; nem tampouco, dando o pão e tirando o sonho. O socialismo de que você fala nunca foi o socialismo científico pregado pelo velho marx e engels, mas um socialismo de tipo soviético, stalinista, duro, inflexível. Não confundamos as coisas. Aliás, o fato do socialismo soviético, por exemplo, ter fracassado mais reforça do que refuta os ensinamentos do marx que buscou, junto como o seu amigo engels, descobrir as leis do capital e que vaticinou que o socialismo tinha que ser mundial e iniciar em um país com suas forças produtivas altamente desenvolvidas. Não foi o caso. Tivemos um "socialismo" de um único país e no mais pobre. Contradições? Existem. E qual projeto não as tem? A questão é que a contradição no capitalismo é resolvida em função do capital e no socialismo deve ser resolvida em função da vida. Utópico? Sim, já que não existe, mas que não significa um sonho impossível. O que devemos fazer então? Já respondir na mensagem para Manoel. Agir como se estivéssemos vivendo lá, com todas as impossibilidades, contradições, limites que isso possa ter. José Régio também disse na mesma poesia, meu mestre, que "deus e o diabo" era quem guiavam ele. Que contradição!!! Que beleza!!! Diz ele também que "correm nas vossas veias o sangue velho dos avós, e vós amai o que é fácil" e ele amava "o longe, o abismo, as torrentes e os desertos". O que amamos? Eu amo a história que se fez e se faz na dinâmica contraditória e complexa do real. Ela exige de mim, que não se atire pedras a esmo. Posso até errar o alvo, mas a pedrada terá que ser certeira, tática e estrategicamente certeira. O socialismo pode não ser o que penso. Se não for, teremos aprendido lições importantes e seguiremos construindo um outro mundo. Eu não posso é reconhecendo o mal do capitalismo, pensar o seu contrário sem reconhecer outra possibilidade civilizatória. Tenho o meu limite aí. Ele reside na construção utópica de um outro projeto histórico, não partindo do céu à terra, mas partindo da terra, para alçar os "céus" da emancipação humana.
Por "fim", estive na sala hj, mas estava fechada, escura, vazia e fria. Você não estava por lá!!!
Abraços fraternos, obrigado pela participação e divulgação deste espaço, que é de todos.
Sigamos no debate.

Unknown disse...

Antes de mais nada...QUE ÓTIMO ESPAÇO DE DISCUSSÃO!!!!
Utopia para Chauí é algo que não aconteceu no tempo e espaço, ou seja, não quer dizer que não venha acontecer.
Não apenas de vontade metafísica vive o sonho de um outro prtojeto histórico. Welington já falou e eu assino em baixo, a história nos prova que nenhum projeto histórico foi eterno; nem mesmo o Feudalismo que durou 10 séculos perdurou. Fico a imaginar uma conversa de duas pessoas no século X, por exemplo. Um devia falar ao outro: " o Feudalismo nunca vai acabar". O outro deve ter respondido: " Olha que acaba!". E acabou!
Não é o Capitalismo que vai perdurar eternamente; até por que o Planeta Terra não aguentará muito tempo.
Acho que Adonis deu o primeiro passo: se postou contra este sistema, fez a critica da realidade. Falta agora apontar a possibilidade, ela surge da critica radical à realidade. O Socialismo vai surgir desta critica, não surge do nada.
Ainda citando os ensinamentos históricos, as condições objetivas determinam a ruptura de um sistema a outro. Sendo assim, a contradição entre desenvolvimento das forças produtivas e socialização dos bens produzidos deixa claro a necessidade de se romper com o Capitalismo e instaurar o Socialismo.
Em outras palvras (dando exemplo): produzir comida para 9 bilhões de pessoas, quando somos aproximadamente 6 e tem gente morrendo de fome, não dá mais. Podemos dividir esta produção com todas e todos.
E a fome não é so de comida, é de esporte, luta, ginástica, jogos, dança, teatro, ciência, filosofia etc etc etc.
Precisamso acreditar e fazer por onde...
Escrevi este texto ouvindo Bob Marley; este vai dizer que "em abundancia de agua o bobo sente sede".
Se a revolução é necessária, que a luta seja cotidiana.
Força na luta que, por mais que dificl, ela é para vencer!!
Elson Moura
UEFS
MNCR-FEira de Santana
LEPEL-UEFS