domingo, 28 de junho de 2009

Seleção brasileira?

Brasil. Três vezes campeão da Copa das Confederações. Um dia para comemorarmos e, por que não, pensarmos sobre o significado de uma selação brasileira cujo plantel é composto de quase 100% de jogadores que jogam fora do Brasil. Seleção nacional ou transnacional?

De acordo com a lista de convocados do Dunga, divulgada no dia 21 de maio do corrente ano para os jogos das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014 e os da Copa das Confederações era assim definida: GOLEIROS (Júlio César - INTERNAZIONALE - Gomes - TOTTENHAN - e Victor - GRÊMIO); LATERAIS (Maicon - INTERNAZIONALE - Daniel Alves - BARCELONA - Kleber - INTERNACIONAL - André Santos - CORINTHIANS); ZAGUEIROS (Alex - CHELSEA - Juan - ROMA - Lúcio - Bayern de Munique - Luisão - BENFICA); MEIO-CAMPISTAS (Anderson - MANCHESTER UNITED - Gilberto Silva - PANATHINAIKOS - Josué - WOLFSBURG - Ramirez - CRUZEIRO - Elano - Manchester City - Felipe Melo - FIORENTINA - Júlio Batista -ROMA - Kaká - MILA); ATACANTES (Alexandre Pato - MILAN - Luis Fabiano - SEVILLA - Nilmar - INTERNACIONAL - Robinho - MANCHESTER CITY).

23 jogadores. Destes, apenas 5 atuam no Brasil, ou melhor, atuavam no Brasil, já que do dia 21 de maio para cá, ocorreram alterações. Por exemplo, o Ramirez já pode ser considerado ex-Cruzeiro e atual jogador do Benfica de Portugal, negociado por 7 milhões de euros.

Esse não é só um "problema" da seleção brasileira. Várias seleções no mundo passam por esse mesmo fenômeno, ter em seu plantel, a grande maioria dos jogadores atuando em outro país. É, como dizem por aí, imposição "natural" do chamado mercado da bola.

Em 2008, o Lê Monde Diplomatique de 26 de março do ano de 2008, trouxe uma fala do grande craque francês, Michel Platini que, na condição de presidente da União Européia de Futebol (UEFA), defendeu em alto e bom som que os times locais fossem representados por jogadores da mesma localidade. Dizia Platini na matéria Pátria sem chuteiras: “é a minha filosofia proteger a identidade dos clubes e dos países. Um jogo entre Manchester United e Liverpool deveria ser entre jogadores de Manchester e Liverpool, entre jogadores dessas regiões. No Arsenal, hoje vocês não têm um treinador inglês, nem jogadores ingleses, e, talvez, o clube nem tenha um presidente inglês daqui a bem pouco tempo”.

Evidente que esta é uma realidade européia. O Brasil, dada a sua precariedade organizacional e dificuldades financeiras dos clubes - cada vez mais endividados, dependentes das ações do governo com a bancada da bola à frente - os jogadores antes mesmo de serem conhecidos dos torcedores brazucas já fazem fama nos gramadosdo exterior. Ou então, quando estamos nos acostumando a ouvir o nome de um certo jogador, lá vai ele sendo transferido.

"A venda de atletas para o exterior vem crescendo há três anos consecutivos e, em 2008, totalizou 1.176 transferências - 46% a mais do que em 2005". (Revista Veja, 13 de maio de 2009)

São por essas e outras que a seleção brasileira fica recheada de brasileiros que jogam no exterior, o que aponta para a questão da identificação do torcedor brasileiro com a própria seleção que de brasileira, passou a ser estrangeira.

Os próprios garotos que sonham em ganhar a vida com o futebol, já não traça um percurso antes vivido por outros jogadores como Pelé, Zico, Falcão, Júnior entre outros, de jogarem em clubes nacionais para, depois, vivenciar uma experiência em clubes europeus, asiáticos, entre outros.

O garoto Nilson Belém Júnior, presente na matéria da revista veja é uma expressão deste fato. O juninho, como é conhecido, de apenas "14 anos, não almeja jogar em um clube brasileiro com tradição". Ele quer "(...) ir para o exterior para ganhar mais dinheiro (...)"



A seleção brasileira, se antes despertava um certo nacionalismo, vai perdendo, aos poucos, a própria referência da nação que representa. Corações e mentes dos jogadores, atrelados aos interesses das grandes corporações que assumiram o esporte como uma fantástica mercadoria, onde a questão do alto rendimento ultrapassa as quatro linhas dos gramados e alcança às bolsas de valores, coloca em um jogo de seleção a sua possibilidade de melhoria profissional, ou de valor do seu contrato, mesmo para àqueles que já não dependem tanto do dinheiro que nos fala o garoto juninho.

Caso emblemático se verificou com Lúcio, que ao fazer o terceiro gol do Brasil, possibilitando a conquista da Copa das Confederações, comemorou a possibilidade de, com isso, ter chance de renovar com o próprio Bayern de Munique (clube que o estar dispensando em função da sua idade) ou com um outro clube da Europa.

Tenho discutido com os meus alunos essas questão e sempre pergunto aos mesmos o seguinte: quando a seleção "brasileira" joga, vocês se reunem para ver a seleção jogar ou a reunião se dar pela questão da festa em si, independentemente de ser ou não a seleção jogando? A maioria das respostas é curta e grossa: a festa!!!

Seleção brasileira? Talvez fosse melhor chamar de seleção estrangeira.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Você tem fome de quê?

O maior problema do mundo é a fome. Esta se encontra presente em menor ou maior grau tanto em nações desenvolvidas quanto em nações subdesenvolvidas.
Um dos maiores mercados do mundo é o esporte. Ou melhor: o futebol. Este se encontra presente em maior ou menor intensidade em diferentes partes do planeta. Joga-se o futebol tanto em países desenvolvidos quanto em subdesenvolvidos. Um verdadeiro fenômeno social, tal como a fome, guardadas as suas devidas proporções.
Existe o basquete, o hugby, o beisebol, o boxe e outros que também são fenômenos sociais importantes e que são praticados em vários lugares do mundo, mas nada comparável ao futebol.
No Brasil, nada mais, nada menos de 10% da população, um montante de 18 milhões de brasileiros, são de famintos. No mundo, a cifra é maior, muito maior. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Agricultura e a Alimentação (FAO), superaremos a barreira de um bilhão de famintos ainda este ano.
Um bilhão de famintos!!!
Ainda segundo a ONU, "O número supera em quase 100 milhões o do ano passado e equivale a uma sexta parte aproximadamente da população mundial".
Nesta semana, esses dois fenômenos sociais aparentemente distintos ganharam visibilidade em diferentes mídias, um com mais intensidade (futebol) que o outro (a fome). Um, em função da transação comercial de dois jogadores que, somados, alcançaram a cifra de 160 milhões de euros e o outro, devido ao relatório supra-citado da ONU sobre o recrudescimento da fome no mundo, apesar de produzirmos o suficiente para nutrir os 6 bilhões de seres humanos do planeta, o equivalente a dois quilos de grãos e meio quilo de carnes, ovos, frutas e vegetais por dia.


Apenas a compra do jogador Cristiano Ronaldo, que custou a “bagatela” de 96 milhões de euros, daria para alimentar mais de 8 milhões de etíopes e ainda sobraria dinheiro para outras ações.
Se somarmos 96 milhões aos 64 milhões de euros da transação relacionada à compra de Kaká, obteremos a fabulosa cifra de 160 milhões de euros.
Diante deste impasse – futebol ou fome –, a justificativa da escolha se dar pela lógica do mercado. Para alguns, esta transação é perfeitamente plausível, e embora consideremos que seja muito dinheiro, o mercado explica.
Esse é o pensamento expresso pelo presidente da FIFA, Jopseph Blatter. Diz ele: “sejamos generosos: é muito dinheiro, mas é o mercado. Há uma sensível crise econômica mundial, mas o futebol continua a ser um bom mercado”.
Eu não sei de onde vem esta sensibilidade da crise, mas o Blatter tem razão ao mencionar que o futebol é um grande mercado. Diante deste imperativo, deste argumento autojustificador, pouco importa se pessoas morrem de fome. Infelizmente, existem pessoas que não tiveram a sorte de nascer em um berço esplêndido, já tem o seu destino traçado e que, portanto, não podemos fazer nada.
O futebol realmente é um grande negócio, extremamente rentável não apenas para os clubes e para os jogadores mas, também, diria até que principalmente, fundamentalmente, para empresários e investidores.
Entre futebol e fome, futebol. Entre jogador e pessoas famintas, jogadores.
Esta é a lógica insana deste sistema insano. Privilegiar as coisas e coisificar as pessoas.

domingo, 14 de junho de 2009

A Copa do Metrô



O governo do Estado tem até o dia 31 de agosto para decidir se a reforma da Fonte Nova será por concessão, parceria público privada ou recurso público. Até o dia 31 de dezembro o governo deverá publicar o resultado final do processo licitatório e o dia 28 de fevereiro do ano que vem será o prazo final para apresentação do cronograma de obras para a Copa 2014. Será também no primeiro semestre do ano de 2010 que devem ser iniciadas as obras.

Todas essas datas foram definidas na terça-feira (09/06/09), no Rio de Janeiro, onde foi realizado o seminário das cidades-sede da Copa, pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, o senhor Ricardo Teixeira. Na oportunidade, o presidente da CBF também alertou sobre a possibilidade – caso as cidades escolhidas no último dia 31 não cumpram os prazos – de perda do direito destas de sediar jogos da Copa 2014.

Outras questões também foram abordadas, dentre estas a questão de infra-estrutura, de sustentabilidade econômica e de mobilidade urbana. É neste item que a porca vem torcendo o rabo devido ao imbróglio que envolve a obra do metrô. Tido como fundamental para desafogar o trânsito de Salvador, que conta hoje com mais de 700 mil carros e 2,5 mil ônibus circulando diariamente, a obra sofrerá, esta semana, nova fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) que investiga indícios de superfaturamento.

Quando em dezembro de 1999 foi iniciada a obra do metrô, esta valia R$ 325 milhões de reais para a construção de dois trechos (Lapa-Acesso Norte e Acesso Norte-Pirajá). O prazo para a finalização da obra era de 40 meses. Passados 114 meses e com o custo alterado para R$ 800 milhões de reais apenas para a conclusão do primeiro trecho (Lapa-Acesso Norte) que se encontra com 85% concluído, o metrô é, de longe, uma enorme pedra no sapato dos governos, municipal, estadual e federal.

Esta pedra ultrapassa o fator mobilidade urbana. Ela é a materialidade da forma como as empresas agem em relação às obras públicas e como agem os políticos, que delas dependem para suas campanhas políticas. Notem que durante esse tempo em que estamos esperando o metrô, até onde vai a minha memória, dois grandes shoppings já foram construídos e outros foram reformados, construindo-se um shopping dentro de outro shopping.

E o descaso, o desrespeito e a desfaçatez não é só com obra grande não. No bairro do Nordeste de Amaralina, existe uma construção abandonada de uma quadra esportiva que vem se arrastando há quatro anos. Iniciada em 2005, foi paralisada no mesmo ano e apesar do prefeito já ter recebido R$ 315 mil reais do Ministério do Esporte, R$ 300 mil dos recursos do Orçamento Geral da União e em 2007 mais R$ 300 mil para aquisição de material e equipamentos a quadra ainda não foi construída.

Quem sabe agora, na esteira das necessidades geradas pela Copa de 2014, imbuídos do espírito nacionalista, no afã ufanista de que "este é um país que vai pra frente", o pessoal do Nordeste de Amaralina (complexo popular que abrange o Vale das Pedrinhas, a Chapada do Rio Vermelho e o Santa Cruz), tenha, enfim, a sua quadra esportiva e o povo de Salvador o seu metrô?

Pois, sim!!!


domingo, 7 de junho de 2009

Da tragédia à festa

Quando, em outubro de 2007, o Brasil foi oficialmente confirmado como palco da Copa do Mundo de 2014, alguns estudos já tinham sido realizados sobre as condições dos estádios de futebol do país e demonstrado que todos, em maior ou menor grau, necessitariam de reparos nas suas estruturas.
Um dos estudos, desenvolvido pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquiteturas e Engenharia (SINAENCO), analisou a estrutura e o estado de conservação de 29 estádios do país e apontou a Fonte Nova, inaugurada no ano de 1951, como o pior entre todos eles.
Um outro estudo, este agora realizado pelo diário esportivo LANCE! no mês de março de 2007, estabeleceu um rainking dos estádios. Dos 24 analisados pelo diário, a Fonte Nova aparecia na 23ª colocação, ficando à frente apenas do Estádio dos Aflitos, em Recife.
Menos de um mês depois do estudo do SINAENCO e oito meses após o estudo do diário esportivo O LANCE!, no fatídico dia 25 do mês de novembro do mesmo ano de elaboração dos relatórios sobre o estado de conservação dos estádios no Brasil e que apontava a Fonte Nova como o pior deles, ocorreu uma das piores, senão, a pior tragédia do futebol baiano e brasileiro. Em um jogo do Esporte Clube Bahia contra o Vila Nova de Goiás, em uma partida decisiva para ver quem ascenderia à série B do campeonato brasileiro, uma parte do anel superior do estádio cedeu, ocasionando sete morte e dezenas de feridos.
Tendo que responder imediatamente ao fato, o governador Jaques Wagner cogitou implodir a Fonte Nova para a construção de uma nova arena, termo que agora se utiliza para designar estádio de futebol e que não por acaso, tem sua acepção relacionada aos anfiteatros romanos, a área central do circo;picadeiro.
No dia 31 de maio, no mesmo canal de televisão onde o governador cogitou a implosão da Fonte Nova, a exatos um ano, seis meses e seis dias, o mesmo Governador anuncia a Copa do Mundo em Salvador e diz, sem nenhum reparo, que a Fonte Nova não seria demolida mas, sim, restaurada (MAQUETE ABAIXO).Nenhuma novidade. No mundo da atual política é assim. Fala-se de acordo com o momento, leva-se o barco de acordo com a força e a direção do vento.
Os tambores festivos bateram no pelô e a massa, com certeza a mesma que chorou e se revoltou com a catástrofe, estava lá aproveitando a festa, vibrando por Salvador, a terceira cidade com maior disnível de renda do país, ser sede (ou sub-sede) da Copa do Mundo de 2014. Afinal de contas, como já dizia minha avó e repetia a minha mãe, quem morre é que perde a vida. Esta continua e devemos olhar sempre para frente já que atrás vem gente.
Desfilam-se agora, nas passarelas do esporte baiano, atores diversos: cartolas, dirigentes, técnicos, cantores e cantoras, políticos de todos os partidos a entoarem em alto e bom som o quanto é bom para a Bahia a Copa. Ontem entoavam indignação, consternação, revolta com a tragédia, hoje entoam acordes de esperança, alegria, melhoria da qualidade de vida e sambam ao som do tambor do Olodum.
Mas eles estão fazendo os seus papéis. Nós fazemos o nosso. Abaixo um vídeo que resgatamos do baú para refrescarmos a nossa memória, esta tão combalida por tantas informações inúteis e repetitivas que somos submetidos a todo o momento pelos meios de comunicação de massa.
O mesmo diz respeito à tragédia, pois em relação a festa, não se preocupem, "ela vai rolar, vai rolar, o povo do gueto mandou avisar"!!!