sábado, 23 de maio de 2009

Discursos sobre o esporte


Embora as nossas investidas sobre as questões relativas as Olimpíadas 2016 não tenham se esgotadas, pois ainda há muito o que se dizer e refletir sobre este evento, não podíamos nos furtar de "falar" sobre o périplo dos políticos de diferentes colorações esta semana na Confederação Brasileira de Futebol, apertando a mão (talvez melhor seria dizer "beijando a mão"), abraçando e dando tapinhas nas costas do seu presidente, o senhor Ricardo Teixeira. Disse um influente deputado baiano da bancada da bola em um jornal local de sexta-feira (22/05) que bastava observar os visitantes para saber quais estados serão os escolhidos.
Esse tema tem mexido até com data e horário de jogos, como foi o caso do jogo entre o Flamengo e o Atlético do Paraná, transferido do dia 30 para o dia 31 de maio, domingo, para que o todo poderoso Ricardo Teixeira apareça no telão do Maracanã informando que o mesmo será o palco da final da Copa de 2014.
Isso por que, somente dia 31 de maio, na cidade de Nassau (capital e maior cidade das Bahamas), será divulgada de forma oficial pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) os nomes das capitais que sediarão jogos da referida Copa do Mundo.
Falando em Maracanã, o editorial da Folha de São Paulo de ontem nos apresenta algumas informações que nos permitem relacionar os fatos acima mencionados com os assuntos abordados em nosso blog nas últimas semanas.
Segundo o articulista, o Estado do Rio de Janeiro, depois de gastar R$ 300 milhões em obras para os Jogos Panamericanos entre os anos de 1999 e 2007, terá que desembolsar nova quantia para adequar o estádio para a Copa 2014.
"Além disso, o projeto prevê a demolição do parque aquático Júlio Delamare, erguido ao custo de R$ 10 milhões. As autoridades fluminenses consideram que falta qualidade ao parque. Em 2007, era tido como exemplar". Uma verdadeira farra com dinheiro do erário público!!!
Aqui na Bahia, em Salvador, o Governador Jaques Wagner, em entrevista a uma rede de televisão local avisou que a cidade não só sediará um jogo das eliminatórias no dia 9 de setembro como também será palco dos jogos da Copa do Mundo. Para isso, mais dinheiro público deverá ser injetado na reforma da Fonte Nova.
Segundo o governador, "a Assembléia Legislativa já aprovou o pedido de empréstimo de R$ 375 milhões no BNDES" Existem outros empréstimos previstos, como o do Banco Interamericano, no valor de R$ 408 milhões e uma provável "ajuda" do Banco Mundial, não informado o valor.
Os posicionamentos que são favoráveis a esses investimentos, sempre trazem um discurso de que os mesmos promovem centenas de milhares de empregos diretos e indiretos e geram receitas diversas, beneficiando todos os baianos.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de maio de 2008, desmente esta cantilena. Ele demonstra que a riqueza gerada na capital baiana não é distribuída de forma equânime. Aqui em Salvador os 10% mais ricos concentram o montante de 67% da riqueza em suas mãos.
No Rio de Janeiro a realidade não é diferente. Lá, segundo a mesma pesquisa, os 10% mais ricos concentram 62,9% da riqueza. E esta realidade não é de hoje. Já nos idos do final do século 18, os 10% mais ricos concentravam 68% da riqueza no Rio de Janeiro.
Várias foram as obras que transpassaram o tempo com discursos de melhoria da qualidade de vida, ampliação dos empregos, distribuição de renda, etc, etc, para os barnabés da vida. Mais de 200 anos se passaram e a desigualdade não só continua a mesma, como novos fatores apareceram fruto deste mesmo processo de desigualdade crônica.
O esporte é hoje, mesmo considerando todas as mediações possíveis, uma grande mercadoria que serve para a maximização do lucro de empresas capitalistas. Nozaki e Penna(2007) assim se referem a esse respeito em artigo de uma revista eletrônica:
"A fabricação do esporte pelas grandes corporações, adaptada ao mais alto grau da exploração capitalista para a maximização dos lucros: na Indonésia, a Nike chegou a pagar 0,40 centavos de dólar a hora, utilizando trabalho infantil (adolescentes de 14 anos de idade) para montar seus tênis, os quais não são fabricados em lugar nenhum dos EUA onde esta empresa em sede. Outro exemplo de modalidade de exploração que vem se disseminando é a utilização de presidiários, por parte das grandes empresas nos EUA, em troca de um pequeno salário (de US$ 0,02 a 2,00 a hora) e/ou de uma redução de sua pena. Empresas como a Spalding utilizam-se deste tipo de trabalho para empacotar suas bolas de golfe, desobrigando-se das leis trabalhistas ao utilizar os presos para a execução de trabalhos".
Essa parece ser a lógica presente nos discursos que buscam legitimar os grandes eventos esportivos. Ampliar a reprodução metabólica do capital às custas das forças de trabalho humano das classes subalternas, única que efetivamente gera riqueza e mais valor em tudo que toca e faz, que constrói edifícios, colégios, estádios mas não são convidados nem possibilitados a participarem da festa.

3 comentários:

Adonis Cairo disse...

As reflexões sobre a a utilização do dinheiro público me levam a pensar mais longe: afinal, que mudanças reais obtivemos com nossa aposta num "novo" projeto político, esse (aquele) anunciado e prometido pelo PT? Ações com as do Governador Jacques Wagner, não são ações isoladas. Ele obedece a um cronograma político e econômico muito mais amplo ao qual estão ligadas todas as esferas do poder ora vigente. Como diz o grande amigo Professro Welington, só uma revolução que atinja os meandros do modelo de procução poderá nos levar a um projeto político e social realmente viável e pensado para a população.

Welington disse...

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Fipe avalia "lucro" de 58% com Pan-07

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, em São Paulo

A Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) divulgou, nesta quinta-feira, que os Jogos Pan-Americanos de 2007 geraram, ao todo, uma movimentação de R$ 10 bilhões. O resultado significa um "lucro" de 58%, já que as esferas públicas gastaram cerca de R$ 4,3 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), na organização do evento.

Segundo a Fipe, quase 180 mil pessoas teriam sido contratadas direta ou indiretamente no período. A avaliação é feita sobre os números de 42 setores da economia, e mostra que o setor que mais ganhou com o Pan foi o da construção civil, que movimentou cerca de 13,8% do valor em questão.

A administração pública (13,4%), o comércio (6,6%) e o aluguel de imóveis (5,8%) vem logo na sequência do ranking. A aferição ainda mostrou que os benefícios do Pan saíram do Rio de Janeiro.

Cerca de 55,9% da produção e 60,4% dos empregos gerados pela disputa contemplaram pessoas de outros estados. O panorama desanuviado, porém, seria ainda melhor se os investimentos tivessem sido bem controlados.

Ao contrário do que se supõe a partir de um comunicado oficial do Ministério do Esporte, o investimento nos Jogos é acima da média para uma competição desse porte. Estima-se que a Argentina tenha gastado, com o Pan de Mar del Plata, de 1997, pouco mais que R$ 1 bilhão.

No Brasil, o descuido com os cofres públicos foi tão grande que o TCU ainda não concluiu a avaliação do rombo. Provavelmente, a soma deve passar da marca de R$ 5 bilhões, reduzindo o "lucro" para menos de 50%.

Adonis Cairo disse...

mos um cálculo rápido: gastamos em torno de 5 bi, quando bastaria gastar 1 bi (como na Argentina, que, creio, não é administrada por santos, ou seja, poderia ser gasto ainda menos). O retorno foi de 10 bi. Retirados os 5 bi gastos, sobram 5 bi. Como só precisávamos ter gasto 1 bi, então já morremos em 4 bi, só na entrada. Sóbram, portanto, 1 bi. como sabemos que o que é declarado sempre é menor do que o que "recolhido"...