domingo, 26 de abril de 2009

Ser, ou não ser. Eis a questão!!!

"(...) quando eu era criança nós jogávamos futebol de pés no chão e de bola dente de leite, calçávamos chuteiras para jogar nos clubes profissionais. Atualmente todo babinha é feito de adidas ou nike. Somos os consumidores deste mundo que criticamos e estamos cada vez mais trabalhando ainda mais para termos maior poder de consumo. Me vejo em um beco sem saída, se não consumo sou excluído e se consumo sou capitalista selvagem. Qual a saída?".

Eis a pergunta que nos faz o professor Marcelo Trotte no seu comentário da nossa matéria ESPORTE, MERO DETALHE DO BUSINESS. Conhecedor do mundo esportivo, mais precisamente do futebol, já que o mesmo foi preparador físico de alguns times do Estado da Bahia e que tem em seu currículo profissional a participação na preparação física da divisão de base do chamado tricolor de aço, Trotte, como é mais conhecido pelos colegas, antes de lançar a instigante questão, faz uma reflexão rápida de como o mundo do esporte era vivenciado em sua época, lembrando da sua infância e dos elementos do futebol que faziam parte dela. Pés descalços e bolas dente de leite. Estes, sendo atualmente substituídos por chuteiras e bolas de marca. No caso específico, NIKE e ADIDAS, as duas grandes do setor de material esportivo mundial.
Objetivamente, indo direto na veia, buscando um chute certeiro, eu diria que não. Não nos tornamos um capitalista, nem tampouco, selvagem, pelo simples fato de consumirmos uma determinada mercadoria. Seja ela de que marca for.
No pensamento marxista, capitalista é aquele que detêm os meios de produção da mercadoria. Nós somos, nessa relação, um consumidor. Quando compramos uma mercadoria, o que fazemos é realizar essa mercadoria, ou seja, completar o sistema produtivo. Enquanto a mercadoria não é vendida, ela não se realiza e não completa o sistema de produção e consumo. E é como consumidor que devemos pensar concretamente essa relação.
Em algum lugar Marx nos ensina que “a fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozinhada, comida com faca e garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas, dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção cria o consumidor", não cria um capitalista, nem tampouco um capitalista selvagem, embora façamos parte da reprodução desta engrenagem complexa e contraditória.
Um dos fatores que nos possibilita comprar hoje uma chuteira nike ou adidas, só para ficar nas duas marcas citadas, é o mesmo que possibilita ter em minha casa, hoje, morangos, maças, pêras e outros produtos alimentícios antes impensável na mesa da minha infância: o avanço e a forma de uso das técnicas e das tecnologias no processo de produção destes alimentos. Não obstante, isso não significa dizer que todos nós temos maças, morangos, pêras nas nossas mesas, nem tampouco, que todos nós temos condições de obter uma chuteira nike ou adidas. Contraditório? Com certeza, pois o capital é contraditório por natureza. Vejamos.
A chuteira da NIKE é produzida em condições sub-humanas no Vietnã, na Indonésia e outros lugares da Ásia, o que possibilita que ela seja vendida no nosso país pela "bagatela" de R$ 99,90 até R$ 349,90 e dependendo da tecnologia inserida na mesma, pode ser muito mais cara. Agora, imagine que para produzir um par de chuteiras a NIKE pague 0,10 cents de dólar a um vietnamita. Esta mesma chuteira é vendida aos preços acima ou mais, a depender do consumidor que se dirigir à loja para comprar o material esportivo. E, então, qual é a saída? A revolução. "O modo capitalista de produção, ao converter mais e mais em proletários a imensa maioria dos indivíduos de cada país, cria a força que, se não quiser perecer, está obrigada a fazer a revolução" (Engels). Esta, por sua vez, pela sua especificidade dinâmica, já se encontra em curso e se apresenta também na pergunta do professor Marcelo Trotte, pois esta nos exige pensar por contradição as possibilidades de comermos com facas, garfos e/ou mãos, unhas e dentes, de jogarmos com bola dente de leite e/ou nike, de chuteira e/ou descalços.
Ser capitalista, ou ser consumidor? Esta não é a questão. Que tal nos transformarmos em produtores associados?

domingo, 19 de abril de 2009

Esporte, mero detalhe do business

Olá, pessoal.
Estamos assumindo mais um desafio. O nosso blog Esporte em Rede tem como objetivo fundamental, refletir sobre o esporte contemporâneo, nacional e internacional, buscando compreender suas relações internas, suas dinâmicas complexas e contraditórias com o contexto mais geral que caracteriza a sociedade como um todo.
Entendemos o esporte como um dos fenômenos mais excepcionais dos tempos atuais. Fenômeno esse que apaixona e influencia milhões de pessoas no mundo inteiro.
Por conta disso, o mesmo precisa ser refletido profundamente, buscando, como já dissemos, compreender os nexos e as relações das engrenagens que o movem interna e externamente.
Temos como propósito também, socializar informações de outros sites que publiquem matérias esportivas que estejam dentro do espírito do nosso blog: críticas e abrangentes. Esse é o nosso propósito. Tratar de discutir o esporte para além das suas fronteiras técnicas e táticas.
Contamos com você para obter sucesso nessa empreitada.
Começamos com um artigo próprio cujo tema é o título desta postagem. Este foi publicado no sítio do Observatório da Imprensa na época da Copa do Mundo de 2006. Mais precisamente no dia 27 de junho. Como a temática continua atual, achamos por bem torná-la pública também através do nosso blog, pois entendemos que a mesma segue perfeitamente a linha editorial que almejamos materializar aqui.
Leia, reflita, comente e se gostar, divulgue para os amigos.

Grande abraço.
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Um olhar sociológico mais aguçado nos permite localizar a gênese do esporte moderno como um elemento característico do século 18, impulsionado pelo processo de industrialização e urbanização de uma sociedade que dava os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento do capitalismo. Trabalhadores, camponeses e operários de diferentes localidades, chegavam às cidades em busca de novas oportunidades de emprego, fixando-se nas periferias. Além da esperança por dias melhores, traziam todo um repertório de tradições de sua comunidade de origem. Entre essas tradições figuravam diferentes tipos de jogos, que eram vivenciados para celebrar diferentes ocasiões e "matar" o tempo de ócio que, embora pouco, existia, ao menos para repor as energias gastas nos trabalhos estafantes das indústrias emergentes.
Essa cultura corporal, lúdica na sua essência e voltada para aspectos da tradição das diferentes comunidades que compunham as cidades, foi, aos poucos, devido a diferentes fatores, transformando-se e cedendo espaço a uma cultura que tinha uma relação mais próxima com os elementos característicos da sociedade capitalista, mais precisamente com o que se andava fazendo nas fábricas. Nesses termos, surge o esporte, trazendo três elementos que reinavam absolutos nas indústrias: os processos de eficiência, eficácia e, principalmente, de rendimento. Foi justamente esse último elemento, que no seu início se tratava de um simples rendimento físico, que se transmutou e, acompanhando a lógica do capital, tornou-se sinônimo de rendimento financeiro.
Essa lógica financeira, então, passou a compor o caldo esportivo e todo o mundo do negócio começou a enxergar no esporte um elemento muito forte de marketing, de publicidade e de propaganda de produtos os mais diversos, inclusive os que, em tese, nada têm a ver com o esporte, como as bebidas alcoólicas. Não por acaso, nesta Copa, pela primeira vez, os investimentos em mídia ultrapassam a incrível cifra de um bilhão de dólares! Das modalidades esportivas, é o futebol a que vem se tornando a mais rentável.

Em nome do e$porte

Jogadores de futebol, como Ronaldinho, por exemplo, tornam-se garotos-propaganda de vários produtos. Se na Copa do Mundo de 82 o merchandising dos jogadores se restringia às chuteiras, hoje vários são os produtos oferecidos através da imagem dos atletas, de picolé a agência bancária, passando por cerveja, guaraná, desodorante, entre outros.
Mas não são os jogadores as únicas estrelas desse espetáculo. No mundo do futebol, a estrela de quinta grandeza são os patrocinadores. Basta ficarmos uns poucos minutos diante da TV para constatarmos isso. Aliás, sozinhos, terão direito a 16% do total de ingressos dos jogos da Copa, o equivalente a 25 mil entradas. Enquanto isso, os pobres torcedores ficam de fora, já que para assistir a um simples jogo devem desembolsar, em alguns casos, cinco mil reais. Por essas e outras a Copa da Alemanha tem sido considerada a mais elitizada de todas.
Pela aceleração dos fatos, com os patrocinadores começando a tomar conta do espetáculo, não nos surpreendamos se na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, tivermos times compostos pelos brinquedos Estrela, chicletes Bubbaloo, picolé Kibon, desodorante Rexona, banco Santander, chuteira Adidas, isotônico Gatorade, guaraná Antarctica. Tudo em nome do e$porte